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Ministro da Saúde entende que fim das obras no Hospital seria «lógico e normal»

Paulo Macedo inaugurou novo edifício do Sousa Martins e anunciou que o investimento no Parque de Saúde da Guarda ainda não acabou

«O que estamos a inaugurar não será o fim deste investimento». Na inauguração do novo edifício do Hospital da Guarda, que custou mais de 55 milhões de euros, o Ministro da Saúde garantiu que haverá mais obras, até porque ainda nem todos os serviços deixaram as velhas instalações. Na última segunda-feira, Paulo Macedo anunciou ainda que o Governo pretende apurar o que «correu mal» no processo de construção do novo bloco do Sousa Martins.

Após uma visita ao novo edifício, o governante realçou que a unidade representa uma mais-valia para os cuidados prestados à população do distrito mas afirmou que não devem ser ignorados «aspetos que não estão bem», exemplificando com o caso de «excessos de corredores completamente vazios e faltas de espaço noutros sítios» e que «nem todas as direções de serviço passaram para dentro deste novo edifício, que é o que seria lógico e normal face a um investimento desta monta». Deste modo, «temos que ver que tipo de investimento adicional teremos que fazer para que, de facto, o hospital fique harmonioso», o que considera «estranho depois de estarmos a inaugurar um hospital projetado há mais de uma década que demorou cinco anos a fazer». Para além da realização de obras no pavilhão cinco, onde funcionavam as antigas Urgências, Paulo Macedo não colocou de parte a possibilidade da realização de «algumas obras» no novo edifício «porque tem que se tirar maior partido de espaços que estão vazios para os pôr ao serviço das pessoas».

Sobre os contornos do conturbado processo do Hospital da Guarda, o ministro considerou que todos os atrasos não são «minimamente de esquecer» porque «tem que haver responsabilidades claras em termos de erros mas também de responsabilidades financeiras e essas vão ser apuradas». O governante adiantou que a Inspeção-Geral de Atividades em Saúde (IGAS) – tal como noticiou O INTERIOR em março passado – está «há vários meses a analisar este processo numa dupla vertente: sobre, de facto, o que é que correu mal e também sobre a razão de ter demorado cinco anos a abrir este edifício, e a abrir em termos de segurança». O responsável pela pasta da Saúde considerou que o novo bloco traz «um acréscimo de qualidade muito importante em certas áreas», destacando o aumento de camas nos cuidados intensivos, a existência de uma área de cuidados intermédios e a melhoria dos serviços de imagiologia que foi «reforçada» com ressonância magnética e um novo aparelho de TAC.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda sublinhou que «há largos anos que a Guarda manifestava o desejo e necessidade de um novo hospital», lamentando que «enquanto promovia o debate se seria melhor um hospital novo ou um novo hospital outros se foram construindo». Vasco Lino frisou também que «quando finalmente arrancou o projeto do novo hospital deu-se também início a um processo repleto de obstáculos morosos e difíceis de ultrapassar», adiantando que quando a administração por si presidida tomou posse e começou a gerir o processo deparou-se «com situações que impediam a sua conclusão». O responsável reconheceu que «persistem problemas por solucionar mas acreditamos que, pelo menos, não viremos a ser surpreendidos por novos factos obstrutivos como tantos os que se nos vieram a revelar ao longo deste ano e meio»: «Infelizmente em vez de um hospital foi projetado só meio hospital, já que a nova estrutura não alberga todas as valências que se esperava e deveria acolher. Atualmente estamos a rever as necessidades de investimento no edifício 5 para o readaptar aos serviços que não foram transferidos para a nova unidade, bem como aos que virão do sanatório que poderá ser assim desativado e por essa via obter poupanças que nos permitirão em pouco mais de três anos recuperar o investimento», reforçou Vasco Lino.

O presidente do CA da ULS apresentou alguns números da atividade registada no novo edifício como as mais de 59 mil consultas e os 36 mil exames realizados desde 20 de janeiro ou os 4.200 episódios desde que a nova urgência abriu a 17 de maio.

Ministro inaugurou exposição de António Saraiva

No início da visita, o ministro da Saúde inaugurou a escultura “Ciclo da Vida”, da autoria do arquiteto António Saraiva, patente no átrio do novo edifício do Hospital da Guarda. O guardense é o atual diretor da Agência para a Promoção da Guarda (APGUR).

Paulo Macedo recebeu carta aberta do Sindicato dos Enfermeiros

Na deslocação à Guarda, Paulo Macedo recebeu uma carta aberta do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses com o pedido de resolução de vários problemas. Na missiva, entregue em mão pelo dirigente sindical Honorato Robalo, é pedida a revogação imediata da portaria 82/2014 (que classifica as unidades hospitalares), a contratação de mais enfermeiros para a Unidade Local de Saúde e a aposta nos cuidados de saúde primários. O sindicato também defende que seja assegurada «a segunda fase de construção prevista para o HSM, como havia sido projetada», e que o atual Governo «teima em extorquir» à cidade e à região da Guarda.

Um processo conturbado ainda sem final à vista

O pavilhão inaugurado na segunda-feira custou mais de 55 milhões de euros e começou a funcionar em pleno em meados de maio, apesar de estar construído desde junho de 2013, num processo cheio de avanços e recuos.

Em janeiro deste ano ficou a saber-se que a segunda fase de ampliação do Sousa Martins, que contemplaria a reabilitação dos dois pavilhões históricos Rainha D. Amélia e D. António de Lencastre, foi protelada. No âmbito desta empreitada, os edifícios seriam intervencionados de forma a poderem acolher o Centro Bioclimático, o Museu da Saúde e o Centro de Investigação e Monitorização da Qualidade do Ar. A empreitada, orçada em 59 milhões de euros, foi adjudicada ao consórcio Hagen/Edifer em maio de 2011 pelo Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Guarda, então presidido por Fernando Girão, mas os trabalhos foram metidos na gaveta devido à crise. A segunda fase consistia ainda na requalificação dos edifícios hospitalares construídos na década de 50 e de um bloco construído em 1997.

Conforme noticiou O INTERIOR em janeiro de 2013, a reprogramação da segunda fase foi apresentada em junho de 2012 e implicava a redução da área a intervencionar e menos investimento. A empreitada iria multiplicar-se em mais três e custaria cerca de menos de metade do inicialmente previsto, uma vez que a área a intervencionar seria consideravelmente menor.

O novo bloco tem quatro pisos e uma área de 48.600 metros quadrados. No novo pavilhão hospitalar funcionam as consultas externas, a urgência, o internamento de oftalmologia, ortopedia, cirurgia, otorrino e pneumologia, a esterilização, a farmácia, os serviços de imagiologia, a unidade de cuidados intensivos e o bloco operatório. Nos dois antigos edifícios do HSM continuam a funcionar, entre outros, a urgência pediátrica, a obstetrícia e a pediatria.

Álvaro Amaro quer que HSM seja hospital com ensino universitário

O presidente da Câmara da Guarda aproveitou a presença do ministro da Saúde para lançar o repto de o Sousa Martins poder vir a ganhar o estatuto de hospital com ensino universitário. Álvaro Amaro entende que, «por uma questão de justiça» e de «visão estratégica para este território das Beiras e Serra da Estrela, ser de absoluta relevância» que os Ministérios da Saúde e da Educação e Ciência possam conferir ao Hospital da Guarda aquela condição. O edil realçou saber que «existem protocolos de colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade da Beira Interior, mas não basta», considerando «necessário e até urgente que o hospital, a sua administração, faça o respetivo requerimento». O autarca considerou que «a rede de ensino, de investigação e laboratorial seja igualmente definida, tendo em conta a realidade sub-regional e a capacidade existente», defendendo «não ser ambição a mais querermos um Centro Académico e Universitário, naturalmente com sede na Covilhã mas também, com igual naturalidade, um polo na Guarda». Álvaro Amaro focou também a necessidade de serem criadas condições, com o novo ciclo de fundos comunitários, para que a «tão apregoada segunda fase das obras do hospital se definam, talvez não tanto com a dimensão megalómana inicial, mas com a certeza da recuperação do edifício cinco» da unidade. Na sua intervenção, o presidente do município frisou que «não podemos esquecer os cinco anos que demorou a inaugurar este edifício, desde o início da sua construção», período em que «se têm de deslindar os meandros, as razões, que levaram a que uma obra essencial como esta demorasse tanto tempo para estar operacional».O autarca frisou também que, na Guarda, «durante muito tempo», se discutiu «se haveria um hospital novo, se um novo hospital, se devia localizar-se aqui ou acolá» e que se «adormeceu em torno de declarações políticas que em nada ajudaram, que não agilizaram, que não resolveram, antes atrasaram».

Ricardo Cordeiro Ministro (à direita na foto) quer saber o que «correu mal» no processo de construção do novo bloco

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