O assunto que traria o ministro da Economia à Covilhã era a assinatura do contrato de financiamento para a construção da Barragem da Ribeira das Cortes e o governante aproveitava para tomar o pequeno-almoço e reunir com empresários da região. Como a cerimónia principal foi adiada, Álvaro Santos Pereira foi então cumprir o resto do programa e visitar o Parkurbis – Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã, onde tudo correu normalmente até à sua saída, altura em que se registou uma enorme confusão com o ministro a ser insultado por vários manifestantes que rodearam a viatura oficial.
Antes, aos jornalistas, o governante não quis falar sobre as portagens e só o fez em Alcains, onde anunciou que o Governo decidiu prolongar por mais três meses o regime de isenções de portagens nas ex-SCUT. Recorde-se que de acordo com as portarias em vigor, as isenções nas antigas vias Sem Custos para os Utilizadores (SCUT) deveriam acabar no passado sábado, nas regiões com um índice de poder de compra acima de 80 por cento da média do PIB per capita nacional. No entanto, de acordo com o ministro da Economia, o Governo «tem estado em contacto com a Comissão Europeia tendo em vista a transposição da diretiva Eurovinheta para Portugal». Deste modo, e tendo em conta que «os contactos ainda não estão terminados, achámos por bem e conseguimos, junto da Comissão Europeia, prorrogar o período de isenções atuais por três meses» a partir de 1 de julho e até final de setembro. Este prazo vai permitir «avançar com um novo modelo» ou «aperfeiçoar o modelo existente, que pode ser melhorado», reconheceu o ministro. O governante destacou os apelos de «autarcas e empresas» segundos os quais «o modelo [de cobrança de portagens] precisa de ser melhorado», ao mesmo tempo que «existem diretivas comunitárias que precisam de ser transpostas». Já um comunicado divulgado pelo Ministério no mesmo dia esclarecia que após o período de prorrogação por três meses, «será aprovado e aplicado um regime de descontos e/ou taxas nestas vias que obedeça a critérios de aplicação e montante que estejam em conformidade com o disposto na legislação europeia». A mesma nota referia ainda que esse regime deverá salvaguardar que «da aplicação do regime de cobrança de taxas de portagens, não resulte a discriminação dos utilizadores destas autoestradas».
Antes de chegar a Alcains, a saída de Álvaro Santos Pereira do Parkurbis foi tudo menos pacífica com várias dezenas de manifestantes, que reclamavam contra o desemprego e as portagens, a insultarem e a vaiarem o governante. Um dos contestatários chegou inclusivamente a colocar-se em cima da viatura para bloquear a sua saída, tendo sido dissuadido por um agente policial que se encontrava no local à civil. À saída do edifício do Parque, a comitiva ministerial tentou evitar os manifestantes mas o ministro viu-se confrontado com dois contestatários que aí o aguardavam. Apesar de insultado, o governante insistiu em dirigir-se aos manifestantes e tentou conversar, mas em vão. Mais tarde, Álvaro Santos Pereira desvalorizou a contestação e sustentou que «todos os protestos são legítimos. Temos em curso um processo de reestruturação grande e há uma grande incerteza» e por isso é normal que haja manifestações, mas «não me senti ameaçado [na Covilhã]. Sempre manifestei a intenção de falar com as pessoas», assegurou.
Cancelada assinatura do contrato da Barragem
Estava agendada para as 11 horas, mas menos de três horas antes, as redações e os jornalistas já presentes no Hotel onde decorreu uma reunião do ministro com empresários foram informados de que a cerimónia de assinatura do contrato de financiamento para a construção da Barragem da Ribeira das Cortes com o POVT – Programa Operacional Valorização do Território tinha sido cancelada. «Falta de condições técnicas» foi o motivo apontado por um assessor do governante que mais tarde se refugiou na mesma resposta: «Não havia condições neste momento para avançar. Só isso. Neste momento, não era possível avançar», reforçou Álvaro Santos Pereira, prometendo que «brevemente» vai dar novidades sobre o projeto. Por seu turno, Carlos Pinto não se quis pronunciar sobre o tema e na nota que enviou às redações a informar do cancelamento, o município também pouco mais acrescentou, apenas indicando que a cerimónia foi cancelada «por decisão do Ministério da Economia e Emprego». Acrescentava ainda que «qualquer informação sobre as razões» da decisão deviam ser solicitadas ao Ministério. Certo é que dias antes, a Câmara anunciava a cerimónia de assinatura como «um evento de grande importância para a Covilhã e para a sustentabilidade de toda a Cova da Beira».
Empresários pedem demissão do ministro
O movimento Empresários pela Subsistência do Interior defende a demissão do ministro da Economia por falta de respostas às dificuldades apresentadas na reunião que o governante manteve com 50 empresários da Beira Interior na última sexta-feira. Luís Veiga, porta-voz do movimento, sustenta que, analisado o encontro, «verificou-se que não há estratégia nenhuma para o interior». O empresário explica que, apesar dos relatos de dificuldades, os empresários lamentaram «não ouvir uma palavra de compreensão do ministro da Economia, antes pelo contrário, sentiram que está num mundo completamente diferente e provavelmente noutro continente». Deste modo, o porta-voz não hesita: «Para nós é altura de dizer basta e exigir a demissão do ministro, não podemos ir para outro nível de exigência após aquele pequeno-almoço surrealista de um diálogo de surdos entre 50 empresários e o governante», critica. Já na sexta-feira, o empresário afirmou que a visita de Álvaro Santos Pereira «não trouxe nada de novo, independentemente da necessidade que atribui às reformas em curso», apesar de «ter sido explicado que as empresas estão no limite e que chegaram a um ponto de não retorno em termos da operação no interior do país». Ou seja, «não se vislumbra outro caminho que não seja o encerramento de mais empresas e a desertificação humana e, perante isso, ele não tem resposta», relatou Luís Veiga.
«Não teve outra alternativa que não fosse saltar para o capô do carro»
A direção da União dos Sindicatos de Castelo Branco/CGTP-IN emitiu um comunicado sobre a vinda do Ministro da Economia ao Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã, onde apresenta a sua versão dos factos ocorridos. Assim, aquele organismo sustenta que é «absolutamente falso que o ministro tenha sido bloqueado» e que «as imagens televisivas mostram claramente que apenas duas pessoas se encontravam à frente do carro do ministro e que o motorista tentou atropelar um deles e este, para se defender do atropelamento certo, não teve outra alternativa que não fosse saltar para o capô do carro». A USCB garante também que «é falso que o ministro tentasse dialogar com os manifestantes», sugerindo que «quando se apercebeu da presença da manifestação» o governante «em vez de tentar fugir», devia ter «solicitado a presença de uma delegação dos sindicatos e nós teríamos ido, como é evidente». Por último, a entidade presidida por Luís Garra garante que «é falso que o ministro tenha sido insultado»: «O que houve foram vozes mais alteradas fruto da justa indignação gerada pela grave situação económica e social que se vive na região e se traduz no aumento das falências, do desemprego e dos despedimentos, no aumento da pobreza e da miséria e no atropelo aos direitos dos trabalhadores. Chamar ladrão a quem rouba a dignidade à vida não é insulto, é o nome certo», reforça a União.
Ricardo Cordeiro