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Mineiros com silicose «obrigados» a permanecer no interior das minas

Sindicato acusa médico da “Beralt Tin & Wolfram” de não actuar por causa da «falta de mineiros»

A decisão de manter doentes com silicose a trabalhar no interior das minas está a relançar uma nova polémica nas Minas da Panasqueira e a aumentar o nível de atrito entre o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM) e a direcção da “Beralt Tin & Wolfram”, concessionária das minas de volfrâmio da Barroca Grande (Covilhã).

Segundo António Matias, dirigente do STIM, o médico de saúde no trabalho não está a cumprir com as funções de zelar pela saúde dos mineiros, «obrigando-os» a permanecer nas galerias após o Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais ter diagnosticado entre 10 a 15 por cento de silicose nos trabalhadores. «Antigamente, sempre que um trabalhador tivesse dez por cento de silicose, o médico colocava-o fora das minas», recorda, acusando que, «com o dobro da percentagem», o clínico da empresa «não actua» para travar esta doença pulmonar própria dos mineiros. Para o sindicalista, esta atitude apenas surge porque o médico é «contratado» pela “Beralt Tin & Wolfram”. Por norma, quando o Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais diagnostica silicose a um trabalhador, este deve ser colocado em funções exteriores à mina. Uma situação que acontecia na “Beralt Tin & Wolfram” até «há um tempo atrás», mas que agora, «por falta de trabalhadores na mina», não tem sido respeitada pela empresa. «A empresa é responsável e tem que arranjar local de trabalho no exterior», argumenta António Matias, lamentando ainda que a empresa «mantenha os silicoses na mina e ocupe os lugares vagos no exterior por pessoas que nunca estiveram no interior das minas».

Contactado por “O Interior”, Ramachondra Naique nega que a situação seja tão grave quanto descreve o STIM. Para o administrador da concessionária das minas de volfrâmio, esta acusação do sindicato «não tem qualquer razão de ser», pois o médico da empresa «só segue a lei». «Quando há suspeita de silicose, os trabalhadores vão ao Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos Profissionais e trazem o certificado que o nosso médico analisa. É este centro que manda na situação do trabalhador. O médico da empresa apenas cumpre a lei», explica, garantindo que «não há nenhum trabalhador no subterrâneo da mina que tenha sido impedido por esse centro». Embora reconhecendo que a silicose foi «um papão» nos anos 60, Naique considera que a doença «já não existe actualmente com tanta frequência», sendo que os casos que se têm verificado derivam do «passado». Mas ainda assim, o administrador afirma ter «verificado e esclarecido» a notícia com o médico, garantindo que «no total, existem oito pessoas com risco de silicose e nenhum tem mais de 10 ou 15 por cento». Trata-se de um assunto que «não devemos descuidar», mas que «não tem qualquer relevância» para a apontar como grave, frisa. Opinião de que discorda o sindicato, visto que ao continuarem expostos às radiações do minério, os trabalhadores estão a «aumentar a silicose», doença que «não tem cura e mata». A queixa do STIM vai seguir para o Ministério do Trabalho, após o delegado de Saúde na Covilhã ter dito que a resolução da situação era da responsabilidade do médico de saúde no trabalho. “O Interior” tentou ainda contactar Sidónio Vaz, médico responsável na “Beralt Tin & Wolfram”, mas até ao fecho desta edição tal não foi possível.

Liliana Correia

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