Como foi possível? O que aconteceu? Incrédulos e consternados custa aceitar a morte De Fehér sempre se lembrará a generosidade com que se entregava ao jogo mas também o sorriso com que nos brindou antes de se dobrar sobre si mesmo e cair fulminado. Depois do choque as imagens arrepiantes da morte, exibidas em continuo pelas cadeias de televisão, não deixaram ninguém dormir descansado. O impacto do acontecimento foi amplificado pelas circunstâncias em que se deu, como bem referiu Manuel Cajuda ao dizer que mortos e sangue vemos todos os dias na TV mas que o acto mesmo de morrer raramente nos é dado. Não vimos Fehér morto, vimos Fehér morrer. E ainda por cima quando uns décimos de segundo antes tínhamos visto Fehér sorrir. Tudo tão absurdo. Sem motivo aparente. Sem aviso de espécie alguma.
A designação oficialmente aceite para acontecimentos destes é “morte súbita”. A causa principal destas mortes é normalmente uma deficiência no funcionamento do coração em que por desfibrilação ocorrida no ventrículo esquerdo o coração colapsa , deixando de bombear o sangue. Indirectamente as causas podem relevar de condicionantes congénitas ou adquiridas. Será que Fehér possuía na sua história clínica familiar de antecedentes que pudessem justificar tal desenlace? Ou será que Fehér ingeriu, agora ou em tempos, substâncias que possam ter despoletado uma tal situação de paragem cardíaca e cerebral? Estas são questões que só uma apurada investigação assim como os resultados da autópsia poderão ajudar a esclarecer. Ainda assim, há uma série de questões que na noite de Guimarães ficaram por responder. O desfibrilhador (aparelho que dá um estimulo eléctrico ao coração) foi ou não utilizado no atleta? Que técnicas de reanimação foram utilizadas e que resultado tiveram? O jogador chegou a recuperar alguma vez a consciência? Porque é que a ambulância entrou de marcha-atrás no estádio? Porque é que o INEM não estava presente no se o jogo era considerado um ensaio para o Euro 2004? Quem é que prestou informações a órgãos de comunicação internacional, logo após a morte, dizendo que a causa tinha sido um tromboembolia pulmonar? A estas e outras questões haverá que somar os dados já apurados na autópsia, que foi considerada inconclusiva mas que por isso mesmo poderá apontar senão para as causas para as não causas do que se terá passado.
A morte de Miklos Fehér deixará marcas prolongadas como a de Pavão há 30 anos deixou. Que um manto de silêncio não cubra aquilo que todos têm direito a saber. O que é que aconteceu.
Por: Fernando Badana