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Meu sequinho mês de Agosto

O SIRESP continua a falhar, Portugal arde como se fosse a última vez, mas nunca o é, há reportagens infinitas sobre praia nos telejornais, um primor de originalidade, há festas populares e emigrantes em todas as sedes de freguesia e anexas, fazendo algumas respirar pela primeira vez em muitos meses, e há uma guerra nuclear em perspetiva em que o tema de fundo é a eterna questão de balneário acerca de quem tem o maior míssil. Curiosamente nem o aparecimento do vídeo árbitro, nem o bruxo Nhaga conseguiram resolver nenhum destes problemas, o que é estranho tendo em conta o tempo de antena e a aura salvadora com que são mencionados.

Há, no entanto, um tema em que o bruxo poderá ser de extrema utilidade, a dança da chuva que teremos de efetuar em outubro, ou setembro, se até lá os municípios não liquidarem a sua dívida à organização celestial das chuvas. Segundo fontes próximas do seu CEO, São Pedro, a seca deve-se também a anos e anos de insultos em redes sociais à pouca chuva com que ele nos tem brindado nestes últimos anos hidrológicos pouco rigorosos e às práticas de gestão de água ao estilo BPN nos longos e secos meses de estio.

E se as razões para tamanho castigo divino requerem uma abordagem metafisica, a realidade é bem mais dura, já que a capacidade de redenção não depende de rezas. A água, esse líquido por vezes tão maltratado no nosso concelho, caso do Noéme, pode mesmo escassear e por várias vias. Se as razões orográficas, geológicas e de alterações climáticas explicam parte do problema a mão humana, sempre ela, completará o ramalhete.

Não se conhece até à data um plano de contingência para mitigar um problema tão sério como é a seca em que o país se encontra, mas aqui pela Guarda a solução encontrada passa por ajardinar de forma clássica com relva e muita água 70 novos espaços públicos com muita água que tenta não deixar secar a relva transplantada… quando já se torna complicada a manutenção dos espaços existente esta opção é claramente uma afronta. Como se pode pedir depois que não se reguem jardins privados e lavem carros se o próprio município não altera a forma como projeta novos espaços públicos mais sustentáveis? Será tudo resolvido com um outdoor “Estamos a efetuar mais furos e poços. A Relva Renascerá”?

Poderá a torneira secar, também, por falta de pagamento? Foi bandeira a deslocalização da sede das Águas do Vale do Tejo para a nossa cidade, mas não se conhecem dividendos efetivos desse movimento. Terá sido o critério de escolha a maior dívida à Águas de Portugal? Será mais fácil cobrar se estiverem por perto? É que 25,7 milhões que cresceram vertiginosamente dos 13 milhões em 2013 deixariam qualquer credor apreensivo, principalmente quando o devedor não reconhece metade dessa dívida. E não será por falta de eficiência na cobrança, pois, dos 3,7 milhões faturados em alta, os SMAS da Guarda cobram 5,5 milhões aos seus clientes. A Guarda é um dos municípios com a água mais cara do país, está mesmo no top 50. Em água+saneamento+resíduos sólidos urbanos, com um consumo de 120 m3, na Guarda pagará 347,69 euros, em Castelo Branco 300 euros, em Viseu 224 euros, em Gouveia 126 euros e na turística e rica Lisboa, que transporta água de Castelo de Bode, 243,5 euros. Uma grande fatura que não resolve a dívida… Não sei se por si, mas para si.

A barragem do Caldeirão está a 70% de capacidade e o seu volume morto situa-se nos 40%.Temos disponíveis cerca de 5.520 hectómetros, utilizemo-los de forma estratégica. Da parte do município podemos ter a certeza que há muita confiança… em resolver um paradoxo, por um lado, que vai chover em breve, por outro, que a época balnear se vai esticar Outono dentro, tal como evidencia a colocação de uma piscina natural na barragem (137.528 euros) perto do fim da época balnear sem que existam quaisquer estruturas de apoio no local. Eleitoralismo? Só gente mal intencionada o poderá entender assim!

Por: Pedro Narciso

Comentários dos nossos leitores
Sempre atento vmtmoutinho@hotmail.com
Comentário:
Só acontece num país da brincadeira.
 

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