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Meu querido mês de agosto

E de repente já estamos em agosto. Quem chega agora às férias chega com a impressão que meio Verão já foi. Quem já as teve fica com a impressão de que soube a pouco, de que o Verão ainda vai a meio e já tudo volta ao mesmo. A época futebolística está na fase dos jogos a feijões e uma ou outra incidência nos preparativos das autárquicas lá consegue um pico de atenção. É muita bom ver milhares de cidadãos avançar em listas para as freguesias, as assembleias municipais, os executivos camarários. É a democracia local à moda portuguesa. É bem um pilar do regime.

Já além-mar a Venezuela precipita-se para o caos e é caso para exclamar: o que um só homem é capaz de fazer ao seu próprio país. Enquanto os nossos recantos fluviais recebem, entre festas e bailes, primos e tios de França, Luxemburgo, Canadá e Suíça, à Madeira os primos chegam este agosto, não para contar o melhor, mas para fugir do pior. Noutra extremidade do mundo, a paciência de chinês deixa-nos estupefactos por tanta complacência com lançamentos de mísseis à laia de alfinetadas de provocação do regime norte-coreano, ora aos “irmãos” do Sul, ora ao Japão, e sempre ao Grande Inimigo do outro lado do Pacífico.

Em contrapartida, parece que andamos a exportar para aqueles lados como nunca, batendo recordes na China. É de ficar de olhos em bico. Isso e o crescimento económico vigoroso e, ao que parece, também sustentável que as contas trimestrais do Estado vão somando. Só é pena ainda não se sentir nos bolsos das pessoas. Haja paciência, nem que seja importada da China. Mas, certa já é a impressionante quebra da taxa de desemprego. E talvez assim seja um pouco mais justo para mais de todos nós. Dizem que para os lados do Algarve já nem há gente suficiente para o emprego sazonal da época.

Os dias vão ficando menos longos. Mas as noites longas de incêndios foram intoleravelmente demasiadas. Quem tenha percorrido a A23 na última semana, encerrada e reaberta por mais de uma vez, sentiu a desolação do Ródão a Mação, nos sinais verticais derretidos, o alcatrão mais negro junto aos railes, e o horror das casas ardidas ao alcance da vista. O IP2 cortado por um fogo que saltou a toda a largura o Tejo para os lados de Nisa.

Não tarda nada faltarão passar menos dias para o equinócio do que os dias que passaram desde o solstício. Oxalá, os fogos vão cessando e que não se faça dos milhares de hectares ardidos de novo milhares de hectares de eucaliptal e pinhal. Pedrógão Grande há de doer por muito tempo ainda. A muitos para sempre. O tempo não para. O que sara muitas feridas, mas nas que não sara faz doer mais. O interior passa mais um verão assim, a experimentar todas as suas profundezas enquanto o resto do país vai a banhos.

Por: André Barata

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