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Meu caro Nuno Crato

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Não tens razão e quero tentar explicar-te porquê em poucas linhas, correndo sempre o risco de não expor todos os argumentos, mas ganhando a qualidade de os que lerem chegarem ao fim. Não Nuno, o Estado não tem de fazer concorrência com os privados. Não Nuno, o Estado não é mais que um imanência do dinheiro privado, gerido por gente votada pelo povo e, logo, nunca pode concorrer com quem o constrói. Não Nuno, o discurso do Estado concorrente é o mesmo do Estado com prémios de produção, o mesmo de salários diferentes para funções iguais sustentado em ausência de concursos, em ausência de critérios, em favores inconfessáveis. O Estado que faliu há uns dez anos é esse que assim se perpétua. O Estado que dava salários chorudos para cumprir funções públicas (como o fez ao atual ministro da Saúde) é um espaço que dificilmente depois se impede de ter gestores de “swaps”, de Estamo, de Scut, utilizando todos os truques para justificar “boa gestão” financeira. A função do Estado é organizar com os privados estratégias duradoiras, criar caminhos de desenvolvimento e nunca, Nuno Crato, concorrer com os privados. Não Nuno, não estamos a concorrer, temos imperativo: o ensino público é uma obrigação contra o analfabetismo, uma conquista contra a ignorância, uma força pela qualidade culta de um país. Desejar um Estado menor e mais eficiente é imperativo de todos os políticos atuais, o que tem de terminar é o conceito de que se pode fazer dinheiro e riqueza com a vida pública. Queres ser rico? Corre riscos, investe, coloca o que te pertence em jogo. O que nunca podemos permitir é a utilização do dinheiro, que os privados nos confiam numa missão de distribuição e garantia justa de direito e obrigação de melhoria da expectativa, defesa das minorias, como folhas de Excel do casino financeiro e das diabruras de meninos com sonhos egoístas e deslumbrados. Não Nuno Crato, acorda para o lado esquerdo e regressa ao senso que te deu cultura e saberes e respeito, pois vais na linha descendente dos maus convívios que escolheste.

Por: Diogo Cabrita

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