O ambientalista Eugénio Sequeira alertou, na passada terça-feira, que metade do território nacional está em risco de desertificação, mas o responsável do plano nacional para a seca considera que o problema se resume a situações pontuais.
Na véspera do Dia Mundial de Combate à Seca e Desertificação, Eugénio Sequeira, engenheiro agrónomo, professor universitário e ex-presidente da Liga para a Protecção da Natureza, afirmou à Lusa que o risco de desertificação, que em 1994 afectava um terço do território, abrange hoje metade do país. «Nunca nenhum Governo fez nada a sério pelo combate à desertificação. Mas o actual ainda é pior do que os outros», afirmou. Eugénio Sequeira considera que não têm sido tomadas medidas concretas de combate à desertificação e explica que, apesar de Portugal ter «as melhores leis» nesta matéria, «na realidade não se está aplicar nada». A principal causa da desertificação é a agricultura e a pecuária intensiva, razão por que o especialista invoca o PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural do Continente no rol de criticas ao executivo: «Qual foi o dinheiro dado aos agricultores para plantarem floresta autóctone que não arda? Nenhum».
E até aos programas já em curso o Governo retirou verbas, acrescenta Eugénio Sequeira, lembrando que o Executivo cortou em 2005/06 o financiamento em Castro Verde para promover junto dos agricultores a sementeira directa. Pelo contrário, o presidente do Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCD), Lúcio do Rosário, minimiza o problema da desertificação em Portugal, considerando que se resume a situações pontuais. «Não existem grandes chagas de degradação» em termos de desertificação, disse à Lusa Lúcio do Rosário, explicando que as situações mais preocupantes se registam no Sul do país, nomeadamente Castro Marim/Alcoutim e Mértola. Para o presidente do PANCD, o combate à desertificação tem avançado: «As medidas que mais destaco são as que têm sido previstas nos vários planos regionais de ordenamento do território», nomeadamente as que pretendem a fixação de pessoas em zonas despovoadas e outras de protecção de actividades que levam à degradação dos solos (como o excesso de urbanização).
O ambientalista Eugénio Sequeira mostrou-se, no entanto, preocupado com o futuro do país: «As chuvas estão agora mais concentradas, o que prejudica a absorção de água pelos solos e agrava a desertificação. Com a falta de medidas de combate, é de temer o futuro, até porque se sente cada vez mais uma perda do sentido de Estado por quem governa». O Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca, que se assinalou ontem, foi proclamado pela Assembleia Geral da ONU em 1994.