O Bloco de Esquerda subiu à Serra da Estrela para falar do projecto de instalação de um casino nas Penhas da Saúde. Os bloquistas disseram que o casino não resolve os problemas da interioridade, que é contraditório com os valores a preservar na Serra e que será um local para negócios escuros e lavagem de dinheiro. Depois das críticas, apresentaram a alternativa: “um projecto equilibrado, sem jogo, e cuja oferta turística seja proporcional às características e aos condicionalismos do local”. Traduzido por miúdos, esta frase significa “inércia total”. Porque “preservar” é, justamente, o que tem sido feito até agora: pouco ou nada. Até ao ano passado, quem visitava a Serra da Estrela só podia contemplar as pedras, porque as árvores foram levadas pelos incêndios. Assim que a Serra começou a sair da sua letargia, apareceram logo estes arautos da desgraça a encarreirar meia-dúzia de frases balofas. Tudo, claro, em nome da sustentabilidade.
A serra é uma reserva natural, mas é também um destino turístico, e por isso exige investimentos. A requalificação das Penhas da Saúde está a ser feita pela autarquia. As infra-estruturas de animação foram construídas por empresários locais. Para continuar as melhorias na Serra são necessárias as receitas geradas por estruturas que criem empregos e riqueza. Um casino é, obviamente, uma estrutura capaz de funcionar como factor de atracção, sem pôr em causa a preservação da Serra.
Pontes
O Programa Polis está a mudar a imagem de algumas cidades portuguesas. Mérito de quem lançou o programa, é verdade, mas também das câmaras municipais que, mesmo sem dinheiro, se lançaram na requalificação das suas cidades. A Covilhã é um bom exemplo do trabalho que se vai desenvolvendo um pouco por todo o país. Com uma ou outra opção estética discutível – e é sabido que gostos não se discutem – o Polis Covilhã já requalificou alguns espaços públicos da cidade, e está a desenvolver um trabalho digno de registo na despoluição das duas ribeiras que são o ex-libris da cidade.
Com quase todas as obras lançadas, a Câmara vai avançar agora para as pontes pedonais. O projecto destas estruturas está em discussão pública e pode ser apreciado no hall de entrada do Teatro-Cine da Covilhã. Como a imagem que vi nos jornais não me convenceu, fui à exposição para ver melhor. E em boa hora o fiz, porque mudei de opinião: afinal as pontes não são feias … são horrendas. Só visto. Para além da sua absoluta inutilidade, as pontes descolam-se da paisagem, assassinando a suave simetria das casas que vestem as encostas da serra.
O presidente da Câmara queixa-se que o Governo não lhe paga as obras do Polis. Pois bem, aproveite para poupar uns milhares de euros e esqueça as pontes. Mas se tem que executar as verbas orçamentadas, então continue o bom trabalho que tem feito na recuperação de edifícios em ruínas espalhados por toda a cidade. Assim, mata dois coelhos de uma cajadada: requalifica a cidade e resolve o problema das colectividades que não têm uma sede, como o Cineclube, por exemplo, cedendo-lhe alguns dos espaços recuperados.
Por: João Canavilhas