Arquivo

Menos ais, menos ais, menos ais!

Um olhar sobre o planeta FUTEBOL – Força, Um, Televisões, Emigrantes, Bola, Orgulho, Luís Figo.

Força Portugal! Ouve-se por todo o lado. Finalmente há um povo que acredita em si. Coloca bandeiras nas janelas. Veste as cores nacionais. Sai á rua para gritar o nome do seu país. Esquece as subidas das taxas de juros, o preço da gasolina, as empresas a encerrar, as famílias endividadas. Acredita que pode ganhar, que pode vencer, que pode ser melhor que os outros. Porque é que só o futebol consegue unir o país?

Um. Se a Galp é “número um” no nosso país, Portugal também pode ser “número um do mundo”! É o que diz a canção de uma das melhores campanhas de marketing dos últimos tempos. “É esta a força da ambição. Podes não chegar à lua mas tiraste os pés do chão”. Num país caído em desânimo, esta “energia positiva” é uma pedrada no charco, para acordar um povo. A motivação é sempre interior e é dentro de nós que temos de encontrar as forças para renascer. “Menos ais, menos ais, menos ais e mais trabalho, mais organização, mais ética, mais força de vontade. Mais que uma campanha comercial, deveria ser uma campanha governamental. Porque é que o Governo não incute no país este espírito?

Televisões. O pseudo jornalismo chegou ao nível “zero”. Horas sem fim a falar de futebol sem que nada de novo se diga. Banalidades, lugares comuns, larachas de ocasião. Imagens repetidas uma e outra vez, incansavelmente. As reportagens no exterior para repetir o que já foi dito em estúdio. E as inacreditáveis entrevistas aos adeptos em histeria colectiva. Com respostas boçais que nos deixam atónitos. Popular não pode ser diferente de populista?

Emigrantes. Estão por todo o lado e estão eufóricos. É nestas ocasiões que se vê que a diáspora portuguesa está espalhada por todo o mundo. Gente que necessita de se sentir parte do todo, em torno de cores, valores e símbolos, que sempre honraram. A selecção tem constituído o denominador comum, que ergue uma nação inteira em torno de uma bandeira. É também um grito de alerta, que nos deve fazer interrogar. O que fazemos pelos emigrantes, quando o jogo acaba e as televisões se afastam?

Bola. Um mundo é uma bola em torno de uma bola. Como se tudo girasse em torno do planeta futebol. Os futebolistas são as “estrelas” de uma constelação multimilionária em que se fala de números com tantos zeros, que as pessoas nem imaginam ao certo quanto ganham os seus ídolos. Sabem que é muito, mas nem imaginam quanto. Só essa alienação permite conviver com esta desmesurada injustiça social. E depois protestam com o que ganha um gestor, um médico, ou mesmo um político. O futebol é mesmo um mundo à parte, em que não há lógica, só paixão. Até onde nos levará esta alienação?

Orgulho. Quando escrevo não sei o desfecho do Portugal-França. Seja qual for o resultado, a selecção exaltou o orgulho português e merece um abraço colectivo. Fez história e fez-se respeitar, deixando-nos a todos orgulhosos. Critiquei aqui Scolari, mas cabe reconhecer que, à sua maneira, acabou por levar a água ao moinho. No campo das ideias, mantenho as criticas; em face dos resultados apresento as minhas felicitações. Este orgulho chegará para levantar a auto-estima de um povo triste?

Luís Figo. Um exemplo dentro e fora do campo. Quando existe uma mentalidade forte, vontade de vencer, capacidade técnica e humana, os resultados são visíveis. É o novo Galo de Barcelos, um símbolo internacional da portugalidade. Uma marca de exportação, tal como outras que estiveram nos estádios do Mundial. Num dos jogos, exceptuando o Ricardo, eram todos jogadores a jogar em campeonatos estrangeiros. É preciso sair para se atingir a perfeição, ou não conseguimos segurar as mais-valias?

Por: João Morgado

Sobre o autor

Leave a Reply