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Médicos do Sousa Martins repudiam declarações do director clínico

Obstetras garantem mesmo que permanência de José Cunha no cargo é «altamente prejudicial» a todos

O “verniz” estalou de vez entre os médicos do Hospital Sousa Martins e o director clínico, que está cada vez mais isolado. Os obstetras dizem-se ofendidos pelas recentes declarações de José Cunha a “O Interior” e avisam que as relações institucionais entre aquele serviço e o director clínico ficam «irremediavelmente comprometidas». Por outro lado, mais de dois terços dos clínicos da unidade guardense subscreveram nos últimos dias um abaixo-assinado distanciando-se do médico, acusando-o de «revelar, mais uma vez, um total desconhecimento dos reais problemas do hospital, pelo que não se estranha a sua manifesta incapacidade para os resolver». O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro já foi solicitado a intervir, mas não demitirá José Cunha por falta de alternativas no corpo médico do hospital.

Na última edição de “O Interior”, José Cunha disse não poder dar protecção a «alguma mediania tecnológica» nalguns serviços, onde é exigido «mais trabalho e dedicação» aos seus profissionais, que responsabiliza por um «nível excessivo de horas extraordinárias, que não se repercute no número de actos praticados». Acusações que caíram que nem uma bomba no seio da classe médica hospitalar. Os obstetras foram os primeiros a reagir e subscreveram de imediato um comunicado-resposta. Começam por negar terem sido alguma vez confrontados com a possibilidade de receberem parturientes da Covilhã, pois se ela tivesse existido «a nossa resposta seria sempre, e obviamente, positiva uma vez que o serviço possui condições para tal», garantem. Acusam ainda o director clínico de lhes «atribuir» a responsabilidade por um eventual fecho da maternidade da Guarda, o que constitui «uma inaceitável demissão das suas funções de defesa dos interesses do hospital, dos seus utentes, profissionais e da própria cidade». Também a afirmação sobre a «falta de qualidade e pouco brio» com que os médicos do Sousa Martins exercem a sua actividade não caiu muito bem: «É tanto mais chocante pelo facto de ele próprio ser médico e ter exercido até há bem pouco tempo funções de natureza assistencial com um nível qualitativo que todos conhecem», lê-se no comunicado de nove pontos.

«É impossível não fazer horas extraordinárias»

«Ultrajante e insultuosa» foi a referência à alegada ausência de evolução na qualidade assistencial na maternidade nos últimos 20 anos, com os obstetras a considerarem, por outro lado, que as afirmações que põem em causa a «qualidade e o brio profissional» dos médicos do hospital revelam um «grau inaceitável de irresponsabilidade» do director clínico por criarem um «clima de insegurança na população que, além de perigoso pode contribuir para um esvaziamento do número de utentes que acorrem habitualmente ao Sousa Martins». Quanto ao facto de admitir que o relacionamento entre o director clínico e os restantes elementos do Conselho de Administração (CA) está reduzido ao «essencial», os obstetras adiantam que tal reconhecimento é a prova de que a permanência de José Cunha no cargo é «altamente prejudicial» a todos. Nesse sentido, foi já solicitada uma reunião a Fernando Andrade, presidente da ARS do Centro, para «análise, esclarecimento e procura de soluções drásticas para a situação criada pelo director clínico», enquanto prometem fazer chegar a sua posição à presidente do CA e aos diversos responsáveis políticos e da saúde no distrito. O mesmo entendem os cerca de cinquenta médicos que, há hora do fecho desta edição, já tinham subscrito um abaixo-assinado de repúdio pelas declarações de José Cunha, que consideram «atentatórias do seu bom nome e profissionalismo». Os clínicos ainda pensaram inicialmente num boicote às horas extraordinárias, mas desistiram da ideia já que essa opção «só iria prejudicar os utentes», disse Henrique Fernandes. O primeiro subscritor lamenta a «incapacidade total» do director clínico «compreender o que se passa na instituição», nomeadamente o facto de faltarem 50 médicos no quadro, «pelo que para o hospital funcionar é impossível aos seus profissionais não efectuarem horas extraordinárias», sustenta. Entretanto, o documento, também rubricado por nove directores de serviço, continua a circular pelo hospital.

Luis Martins

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