Tudo indica que a maternidade da Guarda vá fechar. Não há abaixo-assinados, fraldas à janela ou marchas lentas que lhe valham. Ou sit-ins, vigílias, cortes de estrada ou de linhas de caminho-de-ferro, greves da fome, sessões de canto livre, manifestações, desfiles, boicotes a eleições, pedidos de audiência ao presidente da República, ao primeiro-ministro, aos deputados ou a qualquer outro dos muitos que nos governam, vivem à nossa custa e se estão bem borrifando para a maternidade da Guarda.
Não é que duvide da eficácia dessas ou de qualquer outra das muitas e imaginativas formas de luta à disposição das, no jargão marxista, “massas”. Acredito, como acreditava no dia em que se começou a falar do encerramento da maternidade, que esta só não fechará se for manifestamente necessária. Só o será se nascerem crianças em quantidade suficiente e não me digam que com o encerramento é que deixarão de nascer: houve maternidade até agora e de uma média superior a três filhos por mulher nos anos sessenta, passámos, já depois do ano 2000, à catastrófica média de pouco mais de um filho por mulher nos distritos do interior.
Também nos tribunais nos arriscamos a uma prescrição extintiva por não uso. No Distrito da Guarda, se é que ainda se pode falar em tal coisa, vão fechar os tribunais da Meda, Sabugal, Foz Côa e/ou Figueira de Castelo Rodrigo. São possíveis, também aqui, todas as formas de luta sugeridas para o caso das maternidades. Duvido também aqui da sua eficácia, caso se não apresentem argumentos que venham mais da razão que da simples vontade. A verdade é que aqui a velha questão da galinha e do ovo tem uma resposta muito simples: não é a criação, ou manutenção, de um tribunal no meio do deserto que irá produzir a sua justificação. E o mesmo para uma maternidade: não será por criarem uma na Pampilhosa da Serra que as mulheres de lá vão passar a ter filhos.
É verdade que há outro argumento, que nos diz que se encerrarmos todos os serviços de uma cidade estaremos a incentivar os residentes a irem embora. Verdade, mas, seja como for, teremos de encarar a vida da polis de um ponto de vista mais participado e menos passivo: são os cidadãos e a sua dinâmica que justificam e exigem os serviços, e não o contrário. Se não houver empresas, gente jovem e empreendedora (ou conflituosa), não são necessários tribunais e, muito menos, maternidades. E se numa cidade se começar a falar de encerramento de serviços isso só prova que os seus cidadãos estiveram distraídos, ou inertes, durante demasiado tempo.
Por: António Ferreira