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Maternidades da Beira Interior em risco nos próximos anos

Alterações na rede de prestação de assistência a grávidas passarão pela «concentração de recursos técnicos e humanos», avisa Albino Aroso

O aviso está feito e caiu que nem uma bomba na Beira Interior, onde as três maternidades existentes podem fechar a médio prazo. O presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal (CNSMN), Albino Aroso, admitiu na última quinta-feira que a reestruturação do sector pode levar nos próximos anos ao encerramento das maternidades dos hospitais de Castelo Branco, Covilhã, Figueira da Foz, Guarda e Lamego.

Em conferência de imprensa, em Coimbra, Albino Aroso explicou que as alterações prováveis na rede de prestação de assistência a grávidas, parturientes e recém-nascidos passarão pela «concentração de recursos técnicos e humanos», tendo em vista uma «maior qualidade», à semelhança de políticas que têm sido adoptadas noutros países da União Europeia. Aquelas cinco maternidades do Centro do país, bem como outras de diferentes regiões, sobretudo do interior, registam uma média que não chega a dois partos por dia. O assunto está ainda a ser estudado, adiantou o médico do Porto e antigo secretário de Estado da Saúde do Governo de Cavaco Silva, prevenindo, no entanto, que a actual rede de saúde materna e neonatal só deverá ser reestruturada «se houver benefícios» para os utentes. As condições de transporte, as distâncias a percorrer e a comodidade são outros dados a ter em conta neste processo. «Aceitamos que as populações não vejam isso como melhoria dos serviços para as grávidas», disse, no final de uma reunião com a Comissão Regional da Saúde da Mulher e da Criança da Zona Centro. A CNSMN foi criada em 2003, através de um despacho do ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, para, entre outras missões, «inventariar os recursos humanos actuais, os previsíveis e necessários para os próximos dez anos» na área materna e neonatal.

O director clínico do Hospital da Guarda garante que estas considerações «carecem de uma maior reflexão» e sugeriu a Albino Aroso que «repense» a posição assumida. «A interioridade que a actual política governamental pretende esbater e a existência de três unidades hospitalares na Beira Interior que funcionam em perfeita colaboração», foram dois motivos apontados por José Cunha para a necessidade daquela posição ser repensada. Tanto mais que à componente assistencial junta-se a vertente formativa protocolada entre a Faculdade de Medicina da Universidade da Beira Interior e os hospitais Sousa Martins, Amato Lusitano (Castelo Branco) e Pêro da Covilhã. Reconhecendo que a maternidade na Guarda está a passar por alguns problemas, o director clínico defende a especialização de cada hospital em valências específicas por forma a prestar cuidados médicos de «grande nível de qualidade» e para que os serviços «funcionem bem». Exige, por isso, a manutenção de «pelo menos» uma maternidade na região, que concentre as unidades vizinhas. O presidente do Hospital da Covilhã, Miguel Castelo Branco, sugeriu, por sua vez, que esta decisão seja feita «com muita calma» porque no conjunto dos três hospitais são feitos mais de dois mil partos por ano.

Mas a hipótese de encerramento de maternidades da região já foi afastada pelo presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro. Fernando Andrade já garantiu que isso «não está em causa», adiantando estar-se na fase de estudo da qualidade do atendimento. «O que se pretende é a máxima qualidade para as mães e recém-nascidos», disse aquele responsável, embora admitindo que, situando-se os índices de qualidade da União Europeia nos 1.500 partos por ano, as maternidades em causa estão «efectivamente abaixo» desse número. «O que não quer dizer que sejam para fechar. Trata-se é de saber se uma reestruturação pode trazer benefícios aos utentes», frisou.

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