Arquivo

Match Point

Foi por um triz. A Áustria esteve à beira de eleger, pela primeira vez na União Europeia, um presidente da República de extrema-direita, Norbert Hofer, um candidato que fez a campanha eleitoral armado como uma pistola austríaca Glock, justificando tal comportamento como sendo uma “reacção natural” à crise migratória. Não fosse na Áustria e lembrar-nos-íamos do burlesco Donald Trump. Mas sendo na Áustria, outras lembranças mais sombrias tornam-se inevitáveis.

A diferença de votos foi tão escassa que não se pode, com sinceridade, dizer que a Áustria escolheu de facto dizer “Não” à xenofobia e à mensagem de ódio e integrismo. Como no célebre filme de Wood Allen, “Match Point”, a bola de ténis bateu na rede, ressaltou e, podendo cair perfeitamente para um ou outro lado, acabou por cair no lado certo. Acabou sendo eleito por 30 mil votos de diferença, pouco mais de meio ponto percentual, o candidato independente, oriundo dos Verdes austríacos, Alexander Van der Bellen.

Um dia antes dos resultados das eleições presidenciais austríacas, o “New York Times” publicava um conjunto de gráficos com as tendências de progressão ou regressão de partidos de direita na Europa. Lendo os dados, há uma tendência clara de crescimento em países do Centro-Leste e do Centro-Norte da Europa. A Hungria e a Polónia de uma forma muito pronunciada, logo seguidas da Áustria, da Suíça, da Eslováquia, da Finlândia, da Roménia. Além do caso da França, país mais ocidental da Europa com um partido nacionalista destacado. Se nestes, por regra, há um crescimento da influência da direita integrista, noutros partidos dessa índole aparecem nos últimos anos. É o caso da Suécia, do Reino Unido, República Checa, Alemanha.

Mas também há uma contra tendência que junta a Portugal e Espanha, países em que partidos de extrema-direita não têm expressão eleitoral nenhuma, outros países, como a Itália, a Holanda e a Bélgica, onde a influência dos partidos à direita do centro-direita diminuiu nos últimos quatro anos.

Duas conclusões talvez possam ser retiradas da comparação entre resultados. Fora a anomalia francesa, que tem as suas explicações históricas no nacionalismo da república francesa, os restantes países fundadores do projeto europeu têm contido e até diminuído a influência dos partidos de extrema-direita. Em segundo lugar, os países que mais sofreram com a austeridade são os países mais imunes à extrema-direita. Em Itália e mesmo na Grécia, onde a extrema-direita não tem crescido, mas sobretudo em Espanha e Portugal. É nestas tendências que a Europa tem de saber reencontrar um sentido para o seu europeísmo. Por um lado, o regresso às origens fundadoras. Por outro lado, o regresso às causas fundadoras, da solidariedade e da coesão. Só essa Europa é com sentido a nossa Europa.

Por: André Barata

Sobre o autor

Leave a Reply