Todos os anos a mesma história. Será finalmente desta que Woody Allen regressa com um filme à altura daquilo que nos tinha antes habituado? Todos os anos a mesma pergunta. Todos os anos, invariavelmente, a mesma resposta: ainda não. E os anos foram passando. Os filmes, um por ano, também se foram sucedendo. Uns melhores, outros piores, mas todos muito longe de obras como Manhattan, Annie Hall, A Rosa Púrpura do Cairo ou As Faces de Harry, para referir o último grande filme do nova-iorquino. Há quantos anos isso já foi? Quase uma década se passou.
O último, Melinda e Melinda, parecia já querer mudar alguma coisa, mas, visto com alguma distância, não foi mais que um prato requentado, cozinhado por um grande chefe, depois de demasiados pratos mal servidos (A Maldição do Escorpião de Jade, Hollywood Ending, Vigaristas de Bairro e Anything Else). Filmes divertidos, sim, mas que, trazendo a assinatura Woody Allen, o espectador espera o mar, com palmeiras e sol incluídos, não se satisfazendo com pequenos riachos de água fresca.
Após tantos anos de respostas sempre iguais, surge no início deste ano Match Point, apresentado no último festival de Cannes, e onde desde logo várias vozes se fizeram ouvir no sentido de anunciar a boa nova. A pergunta é sempre a mesma. Nos últimos anos, perante um filme de Woody Allen, a pergunta, tal como a resposta, é sempre igual. Com Match Point estreado finalmente entre nós, the same old story: será finalmente desta que Woody Allen regressa com um filme à altura daquilo que nos tinha antes habituado? E desta vez a resposta muda. Pode-se finalmente dar a resposta por que tantos ansiavam: sim, Woody Allen volta a fazer cinema, não se limitando a contar umas histórias recheadas de piadas, transformadas em filmes que não ficariam na História não fosse o nome do seu autor.
Com Match Point tudo muda, ao ponto de Nova Iorque deixar de aparecer como personagem sempre presente nos seus filmes, dando lugar a uma Londres filmada pelo olhar novo e apaixonado de Allen, a fazer lembrar a sua Nova Iorque a preto-e-branco ao som de Gershwin. Mas o jazz dá aqui lugar à ópera, tal como a comédia dá lugar ao drama. Se bem que, resumir a filmografia de Allen exclusivamente à comédia seja mais que redutor. No entanto, em Match Point, todo o drama e romance são ampliados, acabando por se ver o que não esperaríamos encontrar num filme de Woody Allen.
História de um jovem que ambiciona ascender socialmente na sociedade londrina, Match Point começa em terrenos onde o amor floresce, e acabará num drama onde esse amor parece uma impossibilidade, podendo apenas servir para alcançar outros objectivos. Com actores em estado de graça, um argumento seguro e intenso, e alguma economia narrativa, Woody Allen consegue, não apenas voltar a dar alguma esperança aos seus fãs, como fazer aquele que é o primeiro candidato a filme do ano.