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Matar o mensageiro

Menos que Zero

“A Rádio Covilhã poderá mudar de instalações”, lia-se na edição passada d’O Interior. Os jornalistas fizeram saber que estão contra a mudança para a Boidobra, uma das hipóteses possíveis, mas o presidente da Direcção diz que ainda nada está definido. Apesar disso, o dirigente já avisou que terá em conta “o que é melhor para a rádio e não os interesses pessoais”.

A leitura do referido artigo permite-nos ainda ficar a saber que o director de programação e o coordenador de estação defendem a mudança da Rádio Covilhã para as instalações cedidas pela Câmara Municipal, na Boidobra.

Estes dados poderiam ser irrelevantes se os dois dirigentes não estivessem ligados à autarquia, um como vereador, outro como funcionário. Sabendo-se que existe um conflito entre alguns jornalistas da Rádio Covilhã e a Câmara Municipal, importa questionar se a opinião destes dois dirigentes não será, afinal, um “interesse pessoal”, o tal que não deve guiar a decisão a tomar pela Direcção da Rádio Covilhã.

Ao contrário do que parece, aquilo que está em discussão é muito mais do que uma simples mudança de instalações. É preciso não esquecer que o actual Executivo camarário impediu uma jornalista desta rádio de entrar nas conferências de imprensa por si promovidas. Além disso, o Gabinete de Comunicação da Câmara enviou àquela estação radiofónica um fax inqualificável, onde põe em causa a independência da rádio, acusando-a de estar ao serviço de “forças minoritárias”. O fax termina dizendo que a Câmara não fará mais declarações enquanto permanecerem na rádio aqueles “jornalistas”, assim mesmo, com aspas. Acontece que uma dessas “jornalistas” é licenciada em Ciências da Comunicação, tem carteira profissional de jornalista e 12 anos de experiência. Perante isto, as aspas só podem ser mais uma grosseria reveladora da péssima qualidade do verniz de quem escreve este tipo de coisas.

Talvez o hábito leve a Câmara a pensar que pode impor a sua agenda a todos os órgãos de comunicação social. Talvez estes autarcas pensem que os jornalistas estão sempre dispostos a trocar a sua dignidade por um emprego para si ou para um familiar. Talvez estes senhores acreditem que a política tem algum ascendente sobre os critérios de noticiabilidade. Mas enganam-se. O jornalismo tem as suas próprias regras e, por muito que custe aos nossos políticos, vão ter de aprender a conviver com a crítica. Em vez de enfrentarem a mensagem, os políticos preferem matar o mensageiro, o que é uma má opção. A história recente da política nacional deveria ter ensinado alguma coisa a estes senhores.

Por: João Canavilhas

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