A imprensa noticiou que o candidato do Partido “Socialista” às próximas eleições autárquicas, na Guarda, é o Engenheiro-Técnico Joaquim Valente.
É, para mim, um homem simpático e ter um carro de reputada marca e cor bonita diz bem dele; tal qual tê-lo, um dia, encontrado a fazer turismo em La Alberca.
A questão é que, aqui, é de outra “fazenda” que se trata.
O Senhor Engenheiro – com quem o P”S” avançou para Celorico há quatro anos – não serviu para essa vila e serve agora para a Guarda!? (Naturalmente que Celorico me merece todo o respeito). Mais. Em Celorico foi tão derrotado que obteve o terceiro lugar.
Pensará o Partido “Socialista” que, sendo a Guarda o que é, “para quem é bacalhau basta”!? (Perdoe-se o plebeísmo).
E por que razão é que, se é tão importante elemento político, Maria do Carmo Borges prescindiu dele para elencar o seu Executivo na legislatura que ora termina!? Mais. Para quem é novidade, que este é um obscuro Executivo?
Salvo erro, foi Marx quem disse que «o poder corrompe; e o poder absoluto corrompe absolutamente». E esta é a arrogância dos “socialistas”. Arrogância que, assim – no mínimo – se transmuta em grosseria para com o eleitorado. É também a grandecíssima pelintrice de ninguém mais ter para candidatar. Para quem está dentro da “matéria” não é novidade nenhuma.
É de Cultura que se trata, quando se reflecte sobre esta candidatura. O estimado leitor bem poderá concluir que, dada a realidade ser o que é, estas linhas não têm sentido.
Precisamente por isso é que têm todo o sentido.
Um dos fundadores do PS, que muitos incómodos sentiu com o partido, que me recebia, transbordante de amizade, na quietude do seu gabinete, onde falávamos de livros, livrarias, edições, e de temas os mais diversos, desde a conjuntura local à nacional e aos sentidos da Cultura e da Civilização, declarava um tanto furioso e lacónico: «O PS na Guarda é meia-dúzia de…». Deu-me autorização para o citar sem o mencionar e já há anos o citei, quando do escândalo regionalização, no “Jornal de Coimbra”.
… E têm todo o sentido por motivos, digamos, infinitos. Desde logo, porque a escolha de Joaquim Valente é uma opção da maioria do aparelho; ao mesmo tempo, porque o aparelho está interessado em servir-se. Não é apenas uma infinidade de empregos para o marido, a mulher, a irmã, o familiar… Quem é que na Guarda ignora isso?!
Isto não tem nada que ver com Democracia. Melhor – é uma sua perversão. E, para a perversão, só há uma resposta: “Alto e pare o baile!”. Ao aparelho nada interessa a Cultura, a Civilização, o Progresso, o Desenvolvimento, a Democracia, o Bem, a Bondade,… – nada.
O aparelho pode andar sempre com a “Democracia” na boca. Mas quem, do aparelho, tem aptidão para falar do que, aos egitanienses, interessa? Porque a estes só pode interessar o mais alto, o mais importante.
O aparelho sabe que na área urbana faz pouca ou nenhuma “farinha” – a despeito dos tais ditos incontáveis “tachos”. E que uma tão “surrealista” candidata como a que o PPD apresentou nas últimas autárquicas tenha logrado os resultados que logrou, é eloquente quanto baste.
O aparelho é ignaro e, claro, é com ignaros que se dá.
Esta maldição que se abateu sobre a Guarda radica no facto do concelho ter 53 freguesias rurais e… 3 urbanas. Deputado municipal durante 16 anos – e não quis sê-lo mais – mostraram-me – desde o primeiro momento – que é aí que radica a catástrofe com que temos vindo a viver.
Um que outro presidente de Junta é credor do melhor respeito (conheci alguns de quem fiquei amigo: Aristides, Dario, Celínio, grandes a quem peço desculpa por só saber o primeiro nome), mas, na generalidade, quem pode esperar desses nossos conterrâneos grandes horizontes? E há mesmo quem seja maligno, tenha ido ao Tribunal e perdido. São os tentáculos do polvo, quer dizer, do aparelho.
Lutar contra esta enormidade é um imperativo ético e moral.
Ou seja: nem aparelho, nem emanações do aparelho.
“Alto e pare o baile!”
29-III-05
Por: J.A. Alves Ambrósio