O tabu terminou no PSD e, pelos vistos, também a contestação. Depois do sururu das últimas semanas, o silêncio é agora de ouro até que Marques Mendes oficialize a candidatura de Ana Manso à Câmara da Guarda. O que vai acontecer segunda-feira numa unidade hoteleira da cidade. A actual vereadora não quer falar até lá, o mesmo acontecendo com José Gomes, que promete pronunciar-se amanhã após um plenário concelhio.
A líder da distrital e deputada tinha sido escolhida em meados de Março pela concelhia guardense durante um plenário inédito e muito polémico. A reunião foi convocada à pressa com o único propósito de escolher o candidato. Em cima da mesa estiveram seis nomes, cinco dos quais desconheciam que iam ser votados. Pior, só mesmo o método usado. É que Ana Manso obteve a unanimidade dos presentes, nove em 13 votos, durante uma votação de braço no ar. Uma eleição «nunca vista» e «anti-democrática», acusou de imediato José Gomes, o segundo mais votado com três apoiantes. Um mês depois, o seu nome vai ser mesmo confirmado pelo presidente do partido. Segundo “O Interior” pôde apurar junto de fonte partidária, o nome da líder da distrital nunca terá estado em causa. «Era a candidata natural», disse um dirigente nacional, aludindo ao facto de ter estado na vereação nestes últimos quatro anos e do PS apresentar um novo candidato. «Há uma oportunidade como nunca houve na Guarda. Joaquim Valente tem tudo a provar e não é muito conhecido, ao contrário de Ana Manso, que tem estado no terreno», acrescenta a mesma fonte, que espera que o partido se una «para vencer em Outubro».
Tanto assim que a estrutura nacional do partido terá na sua posse uma sondagem que dá vantagem a Ana Manso sobre Joaquim Valente. Outro argumento invocado é o resultado obtido pelo PSD em 2001, quando a candidata ficou a pouco mais de mil votos de Maria do Carmo Borges. Trata-se da menor diferença de sempre entre PS e PSD no município desde o 25 de Abril, resultado que os social-democratas esperam «capitalizar» nas próximas autárquicas. De resto, cresce a ideia de que o PS está «a facilitar e a desvalorizar a adversária», uma vez que o candidato socialista tarda em ir para o terreno e «age como se já tivesse ganho». Uma «euforia da vitória» de que o PSD conta retirar dividendos. Contudo, há muitas dúvidas no seio da concelhia laranja. «Será que Ana Manso consegue recuperar a imagem que perdeu nestes últimos quatro anos?», questiona um militante contestatário da líder, enquanto outro garante que «o seu grande adversário é ela própria, pois desperdiçou um mandato com coisas fúteis e nenhuma concretização, para além de um protagonismo excessivo». Por isso, os opositores consideram que Ana Manso esbanjou um capital eleitoral «sem precedentes para o PSD» e que a conquista da autarquia não passará por ela. «É uma corrida perdida e desta vez por uma diferença maior, porque já não há pachorra para Ana Manso na Guarda», conclui um dirigente.
Luis Martins