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Manifestação contra encerramento de escolas juntou uma centena na Guarda

Pais, crianças e professores querem que o Ministro da Educação recue na decisão que vai «condenar comunidades ao envelhecimento»

A partir do próximo ano letivo, José Rafael e Luís Pedro vão conhecer uma nova escola, isto porque frequentaram duas das 13 do primeiro ciclo que vão fechar no distrito da Guarda por ordem do Ministério da Educação. “Escola fechada – povoação apagada” foi o lema do protesto realizado na tarde da última segunda-feira na Praça do Município, na Guarda, e que contou com a presença de cerca de uma centena de pessoas, entre pais, crianças e professores.

Os encarregados de educação não se conformam com o encerramento das escolas que os seus filhos frequentaram no último ano letivo. Margarida Caramelo, habitante de Sameiro, no concelho de Manteigas, garante que o fecho da escola da aldeia lhe provoca «uma dor no coração» porque tem dois filhos – o José Rafael, de oito anos, e o Pedro Miguel, de seis, que vai para a primeira classe. A encarregada de educação considera «uma descriminação e uma injustiça o que estão a fazer connosco», até porque a Escola de Sameiro tem melhores condições que a de Manteigas», assegura. Esta habitante defende que «não tem lógica nenhuma as nossas crianças terem que fazer seis quilómetros para irem para a escola de Manteigas, tendo uma em Sameiro e é para irem às nove da manhã e virem às seis da tarde». Igualmente presente na manifestação, o presidente da Junta de Freguesia de Sameiro sustenta que «não podemos enveredar pela psicose do número porque isso é uma armadilha», apelidando o ministro Nuno Crato de «coveiro da educação, ele está a cavar sepulturas nas aldeias e a enterrar as escolas pura e simplesmente». Joaquim Biscaia vê o encerramento da escola com «muita tristeza e muita mágoa» e que o mesmo vai «condenar a comunidade ao fracasso, ao subdesenvolvimento e ao envelhecimento».

Sandrina Monteiro, mãe do Luís Pedro, que frequentou a Escola do Rio Diz, na Guarda, também participou na ação de protesto e diz ser «muito complicado» lidar com o encerramento de um estabelecimento que tem «muito boas condições físicas», para além de ser das poucas que «tem ATL integrado no mesmo espaço». De resto, por causa desta situação, a encarregada de educação diz «provavelmente» não ter outra alternativa que não seja inscrever o filho numa escola particular: «Em termos de ATL é muito complicado, tenho de o meter numa escola que inicie antes das aulas, pelo menos, antes das oito horas e as escolas só abrem às 9 e a maior parte dos ATL’s que há na cidade, mesmo particulares, os que têm os preços mais razoáveis não vão levar as crianças à escola», lamenta. Jorge Pinto, professor do primeiro ciclo no Agrupamento de Escolas de Pinhel, também aderiu ao protesto por considerar que se trata de «questão social e que se prende com a interioridade e a desertificação do interior, seja em Pinhel, Vila de Rei, Moure ou Mourão». O protesto foi organizado pelo Sindicato dos Professores da Região Centro e a delegada no distrito da Guarda considera que os alunos nada têm a ganhar com o fecho de escolas: «O problema que mais se coloca tem a ver com os ganhos que estas crianças vão ter que vão ser zero. Vão para turmas e escolas maiores, perdem o contacto e envolvimento com a comunidade onde se inserem e onde têm os seus valores e tradições». Sofia Monteiro reforça que os alunos «vão ter que ser deslocados», salientando que «o inverno na Guarda é muito rigoroso, o percurso é de montanha e não se justifica estar a tirar crianças tão pequenas do meio onde estão inseridas». Durante o protesto, foi aprovada uma carta aberta, a enviar ao Presidente da República, à Presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro e ao ministro da Educação onde é pedida a manutenção de todas as escolas.

Álvaro Amaro garante que escolas de Vila Fernando e Rapoula não fecham

Sensivelmente à mesma hora que a manifestação tinha lugar, o executivo da Câmara da Guarda reunia em mais uma sessão e o presidente do município assegurou aos jornalistas que as escolas de Vila Fernando e da Rapoula «vão manter-dr», dando, assim, cumprimento à «esperança» que já tinha manifestado na última reunião da Assembleia Municipal, realizada a 30 de junho. Álvaro Amaro indicou ainda que o futuro da escola do Rio Diz «ainda está em aberto», prosseguindo as «negociações» com o Ministério. Deste modo, e no melhor dos cenários, poderão encerrar no concelho da Guarda apenas as escolas do Cubo e Rochoso.

Ricardo Cordeiro A população de Sameiro, no concelho de Manteigas, foi das que mais se fez ouvir no protesto

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