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Mandela e o mundo impiedoso

O pai da nação sul-africana moderna é, como já alguém disse, uma espécie de santo laico. Não há, não se encontra da esquerda à direita, quem se atreva a criticá-lo. Isso não impede que o seu nome sirva para as mais baixas jogadas políticas. Não me refiro à que, entre nós, envolveu o Governo de Cavaco (que apenas fez o que outros governos portugueses já tinham feito, seguindo o voto do Reino Único, como bem explicou José Cultileiro), mas à da China que por vias indiretas já impediu o Dalai Lama de estar amanhã presente nas exéquias do líder histórico do ANC.

A China tem hoje um poder em África que a Europa finge desconhecer. Jacob Zuma, o atual presidente sul-africano não tem a força, muito menos a autoridade moral, para se opor à pretensão chinesa de isolar o líder espiritual do Tibete, ilegalmente subjugado pela China. É certo que isto parece preocupar pouco as pessoas que enchem a boca com os Direitos do Homem. Mas se há algo que Mandela nos ensinou foi a humildade – a que ele praticou, enquanto prisioneiro, depois de livre (quando visitou adversário, se tornou amigo de carcereiros e a todos perdoou) – de que os Direitos do Homem não são exclusivo de uma fação ou de uma ideia.

Diz-se que errar é humano e perdoar é divino. Nesse sentido, o Madiba foi divino, mas nem o seu exemplo comove os senhores do mundo. E não são apenas aqueles que passamos a vida a criticar – americanos e europeus. Pelo contrário, o mundo mudou e os que surgem como novos senhores de certas regiões são mais desumanos e impiedosos do que estávamos habituados.

Por: Henrique Monteiro

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