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Malcata é «adequada» para a reintrodução do lince ibérico

Secretário de Estado do Ambiente apresentou o Plano de Acção para a Conservação daquela espécie ameaçada

A Reserva Natural da Serra da Malcata possui potencialidades que fazem dela uma zona preferencial para vir a acolher um centro de reintrodução experimental do lince ibérico. A garantia foi deixada, na última sexta-feira, pelo secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, que esteve no Sabugal e em Penamacor, onde foi apresentado o Plano de Acção para a Conservação daquela espécie ameaçada, que prevê várias medidas a desenvolver até 2012.

Apesar de Silves ter sido a região eleita para a instalação de um centro de reprodução em cativeiro, o governante garantiu que os linces aí criados serão para «regressar à natureza quando possível, nos locais mais adequados, à cabeça dos quais está a Malcata». Na sua opinião, está Reserva é «particularmente adequada» para vir a ser uma das zonas de reintrodução e para receber um cercado experimental em que os linces criados em cativeiro vão ter o primeiro contacto com a natureza. Humberto Rosa realçou que perante uma espécie «que está em estado crítico e pré-extinta em Portugal», havendo cerca de uma centena de indivíduos em Espanha, «não basta conservar a natureza, mas são precisas medidas radicais de conservar também em cativeiro». Contudo, só em 2012 é que os primeiros exemplares deverão «estar prontos para serem introduzidos no habitat natural», referiu. É que o centro de Silves, com capacidade para 16 animais, vai começar a ser construído em Junho, devendo receber em 2009 os primeiros residentes provenientes de Doñana (Andaluzia), uma das duas colónias que restam na Península Ibérica, ambas em Espanha.

Depois, «será o sucesso da reprodução em cativeiro a determinar quando é que haverá animais em condições de voltar ao seu habitat natural, assim ele esteja recuperado», alertou. Por isso, até 2012, é importante a Malcata «conservar o habitat do lince e reduzir os factores da sua mortalidade», bem como «fomentar a presa», uma vez que se trata de uma espécie que está «quase inteiramente dependente do coelho bravo que tem desaparecido por várias razões, desde doenças até abandono de algumas práticas agrícolas que o mantêm», salientou. Condições que o secretário de Estado acredita estarem «bastante garantidas» na Malcata. De resto, aquela zona integra as áreas prioritárias de intervenção do Plano de Acção, onde se incluem ainda Nisa/Lage da Prata, São Mamede, Moura/Barrancos, Guadiana, Monchique, Barrocal e Caldeirão. O governante considerou ainda que o Centro estar em Silves «nada desmerece esta região», defendendo que a escolha do Algarve representa um «aumento de oportunidades» para a Malcata, pois permite que «outras acções sejam aqui feitas, como a recuperação de habitat», exemplificou.

Nesse sentido, para estudo poderá ir o projecto de criação de um parque temático na zona da Malcata, apresentado por Domingos Torrão, presidente da Câmara de Penamacor. Perante esta proposta, Humberto Rosa considerou haver «espaço para tudo na Serra da Malcata», embora seja «preciso agir com cautela, porque o lince ibérico é uma espécie muito fugidia. Primeiro precisamos criar as condições ideias para ele», advertiu. Entretanto, o autarca revelou que o município já registou a marca “Terras do Lince”, tendo em conta a ligação da espécie à região, para promoção de produtos locais e do turismo. O edil voltou a lamentar a escolha de Silves para sediar o centro de reprodução em detrimento da Malcata, «terra histórica do lince e que mantém condições ideias para o seu habitat». Contudo, Domingos Torrão disse compreender as razões que centraram a reprodução em cativeiro no Algarve, como compensação pela construção da Barragem de Odelouca. «Mas os municípios de Penamacor e Sabugal querem receber o lince ibérico e esperamos que nos apoie», reforçou, dirigindo-se a Humberto Rosa.

Ricardo Cordeiro

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