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Mães precisam-se na Aldeia SOS da Guarda

Fundada há 20 anos, instituição conta actualmente com apenas três mães sociais que têm a seu cargo 25 jovens

Cecília já vai na sua segunda família. É a mãe social mais antiga da Aldeia SOS da Guarda e o exemplo da abnegação e carinho que a instituição proporciona a crianças carenciadas. Ela também esteve de parabéns no último sábado, por ocasião dos 20 anos da Aldeia, onde trabalha desde a fundação. Pela sua casa já passou uma geração de utentes, outra, de oito elementos, prepara-se agora para a vida com a ajuda da “mãe” Cecília. Uma tarefa para a qual pediu a benção ao Bispo da Guarda. D. Manuel Felício visitou as “famílias” e lembrou aos mais pequenos que «a casa é o lugar que nos dá força para o futuro».

Um lema que assenta que nem uma luva à Aldeia SOS. «O modelo familiar é a melhor forma de apoiar estas crianças, cuja grande maioria vem de famílias desestruturadas», garante Luís Matias, presidente da Associação das Aldeias de Crianças SOS de Portugal. No entanto, esse modelo está em risco devido à falta de mães sociais, que desempenham uma função fundamental neste projecto de acolhimento de longa duração. Por isso, a instituição aproveitou a efeméride para fazer um apelo «às mulheres com disponibilidade» para se candidatarem. Actualmente apenas três mães – a mais recente está há quatro meses – têm a seu cargo 25 jovens – com idades compreendidas entre os 4 e os 23 anos –, pelo que a Aldeia da Guarda só tem três casas ocupadas das seis disponíveis. «Recebemos cerca de três pedidos de acolhimento por mês, mas neste momento não nos é possível receber mais crianças devido à falta de mães sociais», confirma Mário Baudouin. Por isso, o grande objectivo do director, vindo de Lisboa há um ano, é ocupar todas as casas. «Custa-nos sempre recusar um pedido, porque está em causa uma criança mal-tratada e que está em sofrimento», acrescenta, lembrando que esta carência também se faz sentir nas duas Aldeias SOS de Portugal (Bicesse e Vila Nova de Gaia).

E adianta uma explicação: «Há candidatas, mas desistem quando sabem que têm que estar disponíveis 24 horas por dia, pois é preciso uma dedicação total e maturidade», refere. Recusando falar do passado, o responsável diz ter encontrado na Guarda uma «instituição modelo», embora lamente que a sociedade local não dispense um apoio maior aos seus utentes. «Têm que aceitar estas crianças como as outras, mas é pena que subsista ainda um pouco de estigma. O mais complicado é a inserção na vida activa, mas isso está difícil para toda a gente», considera. O que pode ajudar é a taxa de 100 por cento de sucesso escolar das crianças: «São alunos esforçados», admite Mário Baudouin, lembrando que o Ministério da Educação destacou uma professora para acompanhar os estudantes. A Aldeia também não tem razões de queixa dos benfeitores, pois são mais que muitos. «Recebemos alimentos, roupa e donativos. Houve até um casal que nos ofereceu uma casa na praia para irmos passar férias, mas, às vezes, basta uma palavra amiga para nos dar ânimo», confessa o director.

Luis Martins

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