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Lusitanos e romanos: do confronto à assimilação

Nos Cantos do Património

Sem apoios para investigar e conhecer os Lusitanos da Beira Interior o pouco que hoje se sabe sobre este povo deve-se, em grande medida, ao estudo das fontes clássicas. Mas confiamos que estas II Jornadas de Património da Beira Interior irão impor uma nova dinâmica à investigação sobre estas temáticas.

A imagem escolhida para estas II Jornadas é uma moeda da época romana mandada cunhar pelo imperador Octávio César Augusto. A moeda foi encontrada nas proximidades da pequena aldeia do Verdugal (concelho da Guarda) e é um símbolo da assimilação dos costumes dos povos indígenas do ocidente peninsular pelo “mundo romano”. Com efeito, o asse de bronze tem representado no anverso a cabeça de perfil de Octávio César Augusto entre uma palma e um caduceu. Na mesma face aparece a legenda IMP. AVG. DIVI F., ou seja, Imperador Augusto, filho do Divino. No reverso da moeda – que figura no cartaz das II Jornadas – aparecem as armas típicas dos povos do ocidente peninsular, entre os quais se encontram os Lusitanos. No centro da moeda representa-se um escudo com “umbo” central, uma falcata (espécie de espada curta de lâmina curva) e um punhal. Duas lanças compridas (soliferrea) cruzam o escudo central.

Esta representação numismática confirma a descrição feita por Diodoro Sículo: “Os Lusitanos são os mais fortes de entre os iberos. Para a guerra levam escudos muito pequenos, tecidos de nervos, com os quais, e graças à sua dureza, podem facilmente defender o corpo. Durante a luta manejam-no com destreza, movendo-o de um lado para o outro do corpo, defendendo-se com habilidade de todos os golpes que caem sobre eles. Também usam lanças, inteiramente feitas de ferro e com a ponta em forma de arpão, e usam capacete e uma espada muito parecida com a dos celtiberos. Lançam as suas lanças com precisão e a grande distância causando frequentemente ferimentos muito graves. São ágeis nos movimentos e rápidos na corrida, por isso fogem e perseguem com rapidez”.

Essas armas manejadas com uma precisão mortal pelos Lusitanos e por outros povos peninsulares figuram nas chamadas moedas de “caetra”, como a do Verdugal, cunhadas no século I a.C. no noroeste peninsular. Constituíam o pecúlio dos soldados que participaram nas guerras contra os Cântabros dirigidas por Augusto no norte da Península. Mas elas representam, também, a deferência do poder romano em relação aos seus ferozes inimigos peninsulares que, com as suas acções bélicas, marcaram os relatos históricos do final do primeiro milénio a.C..

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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