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Lusitânia Romana – I

Ovo de Colombo

Esteve patente no Museu Nacional de Arte Romana de Mérida (Espanha) a exposição Lusitânia Romana: Origem de Dois Povos, organizada em conjunto com o Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa), instituição que acolherá as duas centenas de peças já a partir de outubro. Deixando para um próximo texto a leitura e o comentário à exposição em si, gostaria de abordar a formação desta província romana que integrou territórios hoje pertencentes a Portugal e a Espanha.

Numa viagem pela Hispânia e pela Gália, Octávio Augusto, primeiro imperador, decide reorganizar os territórios peninsulares, sob sua direta responsabilidade desde 27 a.C.. Assim, por volta de 16-13 a.C., a partir das duas originais (Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior) nascia agora uma nova província, a Hispania Vlterior Lusitania, pertencente às provinciais imperiais, que passava a integrar o espaço compreendido entre o Ana (Guadiana), o Durius (Douro) e a costa atlântica (meridional e ocidental). Embora os Lusitanos se tenham conseguido impor no decurso da História, nesses territórios habitavam diversos povos, como os Vetões ou alguns herdeiros dos Celtas do sul, como os Cúneos ou os Túrdulos, conhecidos pelas suas habilidades guerreiras e descritos pelos autores clássicos, designadamente Estrabão, como bárbaros. Desde o período final da República, chegou à Península um número significativo de população itálica – a quem foram entregues os mais férteis territórios –, responsável pela fundação de novas colónias e pelo desenvolvimento do processo de romanização – inevitável nas áreas conquistadas por Roma –, pois com ela trazia a sua língua, costumes, religião, direito e as suas formas de organização social, política, económica e administrativa.

À nova província – vista pelos itálicos como pouco significante e longínqua, no finis terrarum, no limite ocidental do mundo romano – caberia um governador itinerante e, já em tempos de Augusto, uma divisão jurídica em três circunscrições, segundo Plínio-o-Antigo: o conventus de Pax Iulia (Beja), o de Scalabis (Santarém) e o de Augusta Emerita (Mérida). Contudo, hoje desconhecemos as delimitações exatas de cada conventus, em cujas capitais vivia temporariamente o magistrado romano superior.

Com o avançar do período imperial, os territórios da Lusitânia foram sendo sulcados pelas calçadas que uniam os aglomerados urbanos, cada vez mais florescentes, em comunicação com as restantes províncias do Império; ergueram-se fóruns, pontes e aquedutos, embelezaram-se com mármore os recintos das colónias lusitanas e erigiu-se a capital da Província, Augusta Emerita, à imagem de Roma. Sobre isso continuamos na próxima crónica…

Por: Tânia Saraiva*

* Historiadora da arte

Estátua de Magistrado Romano, proveniente de Collippo, MCCB, Batalha

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