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Look de Verão

Crónica Política

Santos populares, festas, bonecas, estátuas, rotundas, anúncios gordos de investimento… Tudo misturado com broa e sardinha assada! É este o look para o Verão, a verdadeira campanha eleitoral está na rua para o escrutínio dos guardenses. Apresenta-se o mote “A Guarda Requalifica-se e Renasce”, mas que patetice é esta?, a falta de coragem para se assumir que nada se fez para o crescimento de futuro da nossa Guarda, essa sim é a realidade, deixem-se de propaganda de “outdoors” e folhetins de correio para enganar quem pretende continuar a viver na Guarda.

Já faz algum tempo que observo as promessas de campanha com soluções fáceis para o nosso purgatório de todos os dias. Na política, como noutros domínios da vida em sociedade, há um género, um estilo, uma maneira de estar que é muito comum: o fazer de conta. Raul Solnado, o saudoso comediante, glosou-o há uns anos num popular programa de televisão. Consiste, este faz de conta, em fingir que se faz, que se aceita as ideias dos outros, que se tem uma qualquer dinâmica, mas, bem vistas as coisas… nada acontece, ou acontece de forma incipiente ou atabalhoada, não produzindo quaisquer resultados verdadeiramente úteis.

Uma manifestação particular deste faz de conta é agendar um tema de especial importância em cima do acontecimento, parece que resulta saído de uma cartola! Como foi o caso do Simpósio Internacional de Arte Contemporânea da Guarda. Já aqui referi insistentemente que este executivo não tem uma estratégia para a cidade e funciona quase sempre ao acaso, sem preparação prévia dos meios, sem conseguir inseri-los em modelos de gestão transparente, por isso recorre à força dos ajustes diretos que trazem, entre outros benefícios, a execução rápida no tempo! Mas sem dúvida, este foi um evento que marcou a saudade das artes plásticas tão abandonadas na cultura da minha cidade. Parabéns ao senhor vereador da Cultura e ao novo diretor do Museu, João Mendes Rosa.

Existe, contudo, um senão: observou-se uma despreocupação, de forma até irresponsável, por parte daqueles que promovem em classificar o evento na categoria correta. Nem sempre o nome que damos aos eventos se manifesta como o mais adequado e, perdoem-me, mas Simpósio não, dado que este é um evento com uma índole académica muito elevada e com objetivos bem precisos: mas foi MUITO BOM!

É claro que ficou evidente que o senhor presidente da Câmara Municipal da Guarda não é um amante das artes, nem um defensor ou até “promotor” do evento, ele é mais para a rotunda circular, circular!!! Mas, certamente para seu espanto, o SIAC não correu bem, correu muito bem!!! “Até nisso ele tem sorte”, diz-se por aí, em cafés e agora esplanadas. Considero que não é sorte, é a força das gentes da Guarda, pessoas de garra e de um envolvimento ímpar, pois quem fez e faz o sucesso dos eventos e da nossa cidade somos Nós, os que cá estamos, os que cá resistimos, os que lutamos por melhor qualidade de vida, os que acreditamos e, acredite senhor presidente, Nós somos inteligentes, não subestime! A Guarda não só gosta da arte como tem artistas com obra feita e de muita qualidade, o senhor é que não sabia! Ficarão sempre na nossa memória de futuro as suas indelicadas e brejeiras palavras: «O Simpósio de Arte vai custar 20 mil euros e nem mais um cêntimo».

Mas para tudo deverá o senhor presidente da CMG aplicar a simples equação: Gastou-se X, para obter Y; Y deverá ser superior a X; Para depois Nós ficarmos a saber: Quanto é X e quanto é Y?

Apesar de algumas realizações positivas (era o que faltava que não as houvesse, pois estão lá para isso), sobressai na memória o que não foi feito e em especial o que se repete já no tempo… Que agora é que se vai fazer! Isto foi o que ontem se anunciou com os investimentos de 15 milhões de euros nos próximos três anos. Os guardenses conhecem já o seu programa de campanha, bastará cruzá-lo com o anterior e as semelhanças serão evidentes! Como o senhor diz, “poupe-nos”!

Faz-me lembrar o Verão de há meia dúzia de anos, das “pulseiras do equilíbrio”, pois, segundo os agentes autorizados e o mercado livre, funcionavam porque «contêm embutidos dois hologramas quânticos de Mylar programados com frequências que interagem naturalmente com o campo eletromagnético do corpo humano»! Isto era excelente, para além do look de Verão, com vários tamanhos e um preço comprometedor entre a qualidade e o bem-estar. A ilusão não demorou muito, pois um estudo com 79 voluntários na Faculdade de Ciências de Atividade Física da Universidade Politécnica de Madrid demonstrou que as pulseiras Power Balance não tinham qualquer efeito sobre nosso equilíbrio! Pena!

Sem transparência, os atos de interesse público e, em geral, o desempenho do poder eleito, não podem ser escrutinados e, consequentemente, não há verdadeira prestação de contas e responsabilização. Sem transparência, os cidadãos ficam inibidos de acompanhar o funcionamento e as decisões dos órgãos autárquicos e, por isso, prejudicados no seu direito e dever de participação democrática. A transparência avalia-se mais por aquilo que não é revelado do que por aquilo que é exibido. Ou seja, os cidadãos não se devem conformar e satisfazer com o que lhes é informado e esclarecido, devem sim exigir o que entendem ser essencial para compreender efetivamente os referidos processos e decisões.

A Guarda continuará a ser um “diamante por lapidar”, o senhor agora prefere o Cristal!

Por: Cláudia Quelhas

* Militante do CDS/PP

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