1. A campanha eleitoral para as europeias já começou e vamos ter mais dez dias de direitos de antena nocivos para a saúde mental dos cidadãos, dez dias de mentiras e disparates, dez dias de demagogia, desresponsabilização e ruído estéril. Ninguém, salvo as caravanas partidárias, vai estar atento às bandeiras que se agitam ou aos discursos inflamados dos candidatos. Nada, nem ninguém vai mudar o destino traçado das pessoas, do caminho de austeridade, dos sacrifícios e do aumento de impostos.
Estranhamente, e três dias depois de começar a campanha, ninguém parece interessado nas eleições que irão decorrer dia 25. Aliás, o busílis da política é cada vez mais esse, o distanciamento entre eleitores e eleitos, entre partidos e cidadãos, entre o votar ou preferir a abstenção.
Estranhamente, muitos “especialistas” dizem que a abstenção é uma forma de protesto por parte daqueles que não se revêm no sistema e que não votar é um direito (claro que é) que o cidadão tem para protestar e para se desmarcar da podridão que tantas vezes anda à volta da vida politica. Mas a verdade é que a única forma válida e aceitável para mudar o que quer que seja é, precisamente, participando, sendo ator do processo eleitoral, ainda que apenas no papel de eleitor que vota. Se não nos revemos no sistema podemos votar em branco, mas a abstenção significa apenas cobardia e desresponsabilização: «não voto, nem quero saber!».
Curiosamente, as eleições europeias são hoje de uma relevância central para o nosso futuro coletivo e individual. É na Europa que tudo se decide. A promoção da coesão económica, social e territorial foi, desde 1989, a principal missão da União Europeia. A Politica de Coesão investiu em Portugal nos três quadros comunitários (1989-2006) 47 mil milhões de euros de fundos, a que se juntam mais cerca de 12 mil milhões no atual quadro. Essas verbas foram determinantes para reduzir a disparidade entre níveis de desenvolvimento das diversas regiões e contribuíram de forma decisiva para a modernização da nossa economia e da nossa sociedade. E essa Europa aceitou que Portugal receba mais um envelope financeiro de fundos comunitários até 2020, porque as regiões do norte, centro e Alentejo continuam a ter um PIB muito abaixo da média europeia. Estranhamente, parte substancial do pacote vai ser “transferido” para Lisboa porque o governo concluiu que o dinheiro investido em Lisboa terá um efeito “spin over” sobre os demais territórios, e em concreto sobre os necessitados de apoio e a que esse dinheiro se destinava. Inacreditavelmente, Bruxelas aceitou o argumento e nós, no centro, no norte e no Alentejo aceitámos de bom grado que assim seja.
2. Compreensivelmente, as listas dos diversos partidos não integram candidatos do interior. Vêm quase todos do litoral, de Lisboa e do Porto, porque a ditadura da demografia não deixa espaço para quem não convive constantemente com a realidade dos grandes centros. Quiçá possamos falar da exceção: a natural eleição de Fernando Ruas, ex-autarca em Viseu, na lista do PSD/CDS. No PS, o melhor lugar da região, mas sem possibilidades de ser eleita, é ocupado por Rita Cunha Mendes, vice-presidente da Câmara de Aguiar da Beira. E, em destaque, o cabeça-de-lista do MRPP é Leopoldo Mesquita, que reside na Guarda (e foi colunista de O INTERIOR). Mas o candidato percebeu que para conseguir alguns votos, por poucos que sejam, terá de passar os próximos dias nas principais cidades e assim quase virou costas à região. Afinal, o interior é o parente pobre e despovoado das campanhas, mesmo para os que cá vivem.
Luis Baptista-Martins
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