Sem surpresas, a lista de Miguel Madeira, autarca de Vila Franca das Naves assassinado no primeiro dia da campanha eleitoral para as autárquicas, ganhou por larga maioria as eleições de dia 9. Uma vitória anunciada e por números que também não surpreenderam ninguém na vila. A candidatura social-democrata à Junta, que passou a ser liderada por Adelina Ferreira, a número dois, cilindrou literalmente os adversários ao obter 509 votos contra 98 dos socialistas, encabeçados por José Carlos Fiel. Isto é, 411 votos de diferença num universo de 911 inscritos.
Um resultado que vários populares explicam invocando a tragédia da manhã de 27 de Setembro. «É uma última homenagem a Miguel Madeira, foi por ele que muita gente votou», assegura-se na papelaria Silva, onde um cliente esclarece que a lista «já não podia ser mudada» após o desaparecimento brutal do presidente-candidato. «Coitado, nem teve tempo de tirar as fotografias para a campanha. Vai fazer muita falta em Vila Franca das Naves», acrescenta Arnaldo Pereira, trabalhador na construção civil, que não vai esquecer tão cedo um jovem autarca «exemplar e trabalhador». A Conceição Correia também não lhe faltam adjectivos quando fala do edil. «Era uma óptima pessoa desde pequeno, dava-se bem com toda a gente e estava sempre disponível para ajudar quem quer que fosse. Ricos e pobres, novos e velhos, até alguns adversários da política. Os vilafranquenses perderam um bom autarca», garante a proprietária do Café Silva, situado na Rua do Comércio, a principal da vila. Na sua opinião, o que se passou a 9 de Outubro foi um «tributo» de «grande parte» dos eleitores a Miguel Madeira, embora reconheça que ele ganharia na mesma se estivesse vivo: «Não tinha adversários à altura», diz.
De resto, considera que Adelina Ferreira é um «bom elemento» para a Junta, mas não vai substituir o ex-presidente. «Como ele, não voltaremos a ter. Só que como esteve no mandato anterior, acho que é a pessoa indicada para haver uma continuidade porque a Câmara de Trancoso também nos vai ajudar muito», acredita. Já a nova presidente, antiga secretária da Junta, diz-se consciente de ter à sua espera uma maior responsabilidade no desempenho da função: «Não duvido que no domingo as pessoas votaram no Miguel, mas cá estamos nós para trabalhar e para fazer o melhor pela freguesia, nem que seja em sua memória», refere. Adelina Ferreira diz mesmo que Miguel Madeira vai estar «sempre presente» neste mandato, no qual espera poder acabar as piscinas, construir o centro cultural e «lutar» por um centro de dia. Recorde-se que o autarca de 36 anos foi abatido à queima-roupa no interior da sua carrinha, quando se preparava para remover algumas pedras propositadamente colocadas por João Loureiro, o alegado homicida actualmente em prisão preventiva, para obstruir um lugar de estacionamento em frente à sua casa. Pedras, essas, que acabaram por ser retiradas uma semana depois dos acontecimentos. Em Freches, também a lista de Manuel Plácido, candidato do PSD que se terá alegadamente suicidado na véspera do fim da campanha, venceu o escrutínio.
Luis Martins
