Até 31 de maio não vão ser aplicadas coimas a quem não tenha ainda limpo as matas, mas o prazo previsto inicialmente era 15 de março, o que levou muitos proprietários a adiantarem-se na limpeza dos seus terrenos.
As coimas podem variar entre os 280 e os 120 mil euros e se alguns proprietários já faziam habitualmente a limpeza das matas, por precaução este ano é notório que houve uma preocupação maior e mesmo até quem já o fazia, este ano fê-lo de uma forma mais profunda.
Na aldeia de Casas da Ribeira, na Guarda, coube a Emanuel Rebelo a tarefa de ajudar os pais na limpeza dos terrenos. Explica que «já costumamos limpar habitualmente», pelo que esta imposição do governo «não significa uma pressão, mas uma obrigação». No entanto reconhece que em muitos casos «a ameaça de multa vem pressionar e fazia falta, pois não tem nada a ver um terreno limpo com um terreno mal tratado». Emanuel Rebelo ressalva, contudo, que não verificou mais limpeza na sua aldeia que o habitual, pois garante que os pais e vizinhos «fazem isso recorrentemente». O que pode ter mudado é o tipo de intervenção feita, que foi «mais profunda e cortámos árvores maiores, de médio porte, e deixámos só as de grande porte. Assim será mais fácil fazer a manutenção», refere, acrescentando que esta «foi a altura certa para o fazer».
Também Maria Silva, habitante de João Bravo (Guarda), quis apressar-se na limpeza em volta da casa. Garante que «já era comum limpar», mas há semelhança de Emanuel Rebelo, também na sua casa se preocuparam em fazer «uma limpeza mais profunda, embora já tivéssemos tudo mais ou menos limpo». Diz que este ano tem visto «mais cuidado nas limpezas», terrenos que normalmente não são tratados «estão hoje mais limpos», um trabalho que reconhece ter faltado nos anos anteriores. «Hoje toda a gente tem medo e limpa», afirma a moradora. Noutra aldeia da Guarda, em Chãos, ainda há trabalho por fazer. Esta semana António Cardoso “pôs mãos à obra” e tratou da limpeza de um terreno junto à estrada principal, cujo proprietário é seu conhecido. Ali optou pelo «corte de algumas árvores» e também não é exceção quando fala em limpeza mais profunda: «Era essa a imposição», afirma. No entanto, considera que «algumas das árvores que cortei já foi demasiado», mas reconhece que esta foi uma medida necessária, «porque todos os anos à volta da povoação há sempre terrenos por limpar». A lenha será aproveitada para uso próprio, segundo o acordo feito com o dono, mas falta ainda «queimar o lixo», o que será feito noutra zona, «onde não haja perigo».
Depois da limpeza, a manutenção
Se há quem tenha a preocupação de fazer queimadas em zonas consideradas mais seguras, tal nem sempre acontece. Desde o início do ano só na área de atuação dos Bombeiros da Guarda houve entre 20 a 30 incêndios. O comandante da corporação não pode precisar que a causa tenha tido por base uma queimada, mas reconhece que «esta é, muitas vezes, a causa». Paulo Sequeira alerta que quer seja uma queimada de sobrantes, ou de combustíveis, «há medidas a tomar previamente e é necessário avisar as autoridades competentes». No caso de uma queimada de sobrantes, é mais simples, basta contactar o 117 ou a GNR «para que saibam que haverá uma queimada naquela zona». Já a queimada de combustíveis carece de uma licença por parte da autarquia. «Não podemos usar o fogo só porque nos apetece, há que obedecer a determinadas condições, entre elas atmosféricas», avisa o responsável, recordando que «antes das chuvas tínhamos dias de verão e houve muitos incêndios».
Quanto à medida, embora admita que «talvez tenha um limite apertado, mas era necessário existir. Os proprietários fazem as limpezas porque se sentem pressionadas, mas ainda está muito por fazer», não se referindo apenas aos proprietários privados, mas também «às matas cujo proprietário é o próprio estado». Segundo Paulo Sequeira, uma das causas dos agravamentos dos incêndios é «a falta de uma limpeza preventiva, pois, infelizmente, em Portugal há ainda a ausência de uma cultura de auto proteção» e adverte que «não basta limpar, há que fazer uma manutenção periódica.
Contratar empresa para limpar terrenos pode custar entre 300 e os 350 euros
Se há quem opte por fazer a limpeza com as próprias mãos e com os meios a que tem acesso, há também quem prefira contratar uma equipa especializada.
Daniel Vendeiro é coordenador da equipa de sapadores florestais de Fernão Joanes (Guarda), que atualmente não tem mãos a medir com os serviços solicitados e a chuva dos últimos dias «tem dificultado o nosso trabalho». É habitual serem requisitados, mas este ano o responsável verifica que «as pessoas têm tido muita preocupação». A equipa que Daniel Vendeiro coordena é constituída por 10 trabalhadores e têm a ajuda de um trator, atuando sobretudo no território do Parque Natural da Serra da Estrela. A limpeza feita por uma equipa mais especializada torna-se mais profunda, mas tem custos que nem toda a gente pode pagar. Por dia os sapadores cobram 350 euros, já com mão-de-obra e equipamentos incluídos, e os interessados neste serviço são tantos que há até uma lista de espera «que já vai longa», mas Daniel Vendeiro garante que «vamos tentar cumprir os objetivos».
Em Trancoso, à equipa de sapadores da Associação de Produtores Florestais têm chegado muitos interessados no trabalho de limpeza dos terrenos. Segundo Sofia Gonçalves, engenheira florestal da associação, «só para julho é que temos vagas», uma data posterior ao fim do prazo imposto pelo Governo. Por isso mesmo, «tentamos ir já aos mais urgentes, aqueles que estão mais próximos das povoações», adianta. A equipa é constituída por cinco elementos e têm também o apoio de um trator, mas «choveu muito nas últimas semanas e os campos ficaram alagados, o que acabou por atrasar um pouco os trabalhos, agora tentamos compensar», refere a engenheira. A Associação de Produtores Florestais cobra 300 euros por dia e todos os anos começam a ser requisitados logo em janeiro, mas em 2018 tem-se verificado «mais trabalhos que o habitual para a época, embora muitos dos campos que fazemos já seja fixo».
A responsável considera que este ano há «muita preocupação com as multas que os proprietários possam vir a pagar caso não limpem» e alerta que «os terrenos não vão ficar limpos até ao final do verão e esse é um dos problemas desta lei», lembrando que se «não for feita uma manutenção, os campos vão ficar piores do que estavam hoje».
Ana Eugénia Inácio
Comentários dos nossos leitores | ||||
---|---|---|---|---|
|
||||