Quando as principais figuras do Estado vierem à Guarda, no próximo dia 10 de Junho, terão uma boa oportunidade para apreciarem as consequências das suas políticas nas últimas décadas. Ou, por outras palavras, para verificarem o lindo serviço que fizeram. Podem chegar de auto-estrada, vindos pela A23, cortesia dos governos socialistas, podendo aproveitar para fazer algumas contas na perspectiva custo-benefício. Repararão certamente que passam poucos carros. Se pagassem as portagens virtuais reparariam também que são caras e que as alternativas são complexas e incómodas. Se vierem pela A25, destinada a substituir o IP5 (este último cortesia de Cavaco), poderão perguntar porque se chegou sequer a construir e se não fez logo em seu lugar uma auto-estrada, atendendo a que ambas cobrem o percurso que é a principal ligação do país ao estrangeiro. Venham em alternativa de comboio e apreciem o estado do caminho de ferro da Beira Alta (o da Beira Baixa deixou de chegar à Guarda, sabiam?): se vão a trinta à hora em muitos locais é pelo estado periclitante em que estão as linhas, que obrigam a baixar drasticamente a velocidade por motivos de segurança. Quase me esquecia: a linha da Beira Alta é a principal ligação por caminho de ferro de Portugal ao estrangeiro.
Já na cidade repararão nos muitos escritos nas janelas, nos inúmeros anúncios de casas e lojas a arrendar e vender. Sabem porque é assim? É porque inúmeros guardenses se foram embora, para o litoral e, sobretudo, para o estrangeiro. Porque foram? Reparem, para encontrar as pistas de uma resposta, nas inúmeras lojas fechadas, nos pavilhões industriais abandonados, nos anúncios de insolvências e penhoras, nos terrenos de cultivo infestados de ervas daninhas. Na Praça Velha (é assim que lhe chamamos), nosso orgulho maior, vejam os prédios em ruínas, as lojas fechadas, a geral decrepitude lassa e cansada de um velho fidalgo falido.
Reparem agora nos cartões partidários dos muitos que trabalham nos institutos e organismos públicos, como foram engrossando os quadros legislatura após legislatura, saídos do PS, do PSD, do PP. Dos vossos partidos. Como poderão perceber, isto, a Guarda, não chegou a este estado apenas por culpa nossa, os guardenses. Também vós, os políticos que nos vêm visitar no 10 de Junho, tendes a vossa responsabilidade – e muito maior do que a nossa. Foram as vossas políticas, os vossos erros e a vossa geral incompetência que levaram este país, e a Guarda, a este estado miserável. Por isso, sugiro que limpem as mãos à parede – a do Hotel de Turismo é perfeitamente adequada para o efeito. O actual presidente da Câmara Municipal, e o anterior, saberão explicar-vos porquê.
Por: António Ferreira
