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Limitações e oportunidades da investigação em Portugal

As condições que enquadram a realização de atividades científicas e tecnológicas em Portugal, cujos objetivos são louváveis, sem dúvida, cuja concretização, quer pela extensão dos campos cognitivos abarcados, quer pela reconhecida competência das equipas responsáveis por cada campo específico estudado são de elevadíssima qualidade. Por isso interessa refletir sobre o panorama que desponta aos nossos olhos alertando para algumas limitações.

A grande maioria dos estudos de investigação é desenvolvida no âmbito das unidades de investigação e desenvolvimento apoiadas pelo Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D a cargo da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P. (FCT I.P.). Ora aqui reside a grande limitação mas também oportunidade; limitação porque os investigadores encontram-se inseridos num projeto de investigação (onde geralmente se encontram em média cerca de 16 investigadores, aqui todos já com doutoramento e estes são ainda os orientadores dos projetos individuais de investigação dos candidatos com bolsa aprovada pela FCT para doutoramento ou pós-doutoramento, que pela via da aprovação da sua bolsa devem estar ligados a uma Unidade de Investigação) e naturalmente há riscos de não ser fomentada a autonomia e a liberdade na inovação e criação da ciência, pois se o tema do investigador não estiver de acordo com o projeto de investigação deixa de ser exequível. Há ainda outros riscos, é que os projetos de investigação destas unidades I&D podem não estar vocacionados para o contexto nacional, o que acontece na maior parte, atrevo-me mesmo a dizer, em 90% dos casos, devido à necessária internacionalização da investigação científica. Ora, outra limitação parte da investigação científica em Portugal não chegar às empresas, às instituições, ao nosso dia a dia. Repensemos então, se a aposta nas universidades como centro do sistema de investigação não é, afinal, uma fuga sem alma nem destino.

Uma outra limitação é o risco da investigação científica ser financiada estritamente com recursos públicos, é que as agendas de investigação, nas I&D, são cada vez mais geridas pela agenda dos decisores políticos. Porém, não posso deixar de frisar o ministro da Economia, António Pires de Lima, que, num debate sobre o tema “Crescer para fora” na Fundação de Serralves, no Porto, no passado dia 18, lamentou: «Uma boa parte da investigação é financiada por dinheiros públicos e não chega à economia real. Não chega a transformar o conhecimento em resultados concretos que depois beneficiem a sociedade como um todo».

Devemos então refletir sobre a possibilidade ou não de manter um modelo de financiamento que mantenha esta distância. Devemos então procurar e promover oportunidades que emerjam dos êxitos da Fundação Champalimaud, da Bial, que lançam, de há algum tempo a esta parte, prémios/bolsas de investigação muito importantes nas suas áreas específicas de atuação, mais ainda, e muito recentemente, também a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Não podemos ficar apenas com os números e chorar pelos resultados das bolsas deste ano, que passaram por «uma redução de 50% de bolsas de doutoramento e de 70% de bolsas de pós-doutoramento». De facto, é evidente que os “cortes são brutais”, então mudemos o paradigma, a investigação é ação e ação não é dependência, liberte-se a investigação destes domínios, repensemos modelos diferentes que recompensem os melhores e “reformem” as piores.

Repensem as instituições, como o Centro de Estudos Ibéricos onde se explana na sua missão «(…) Reforçar a parceria e a programação, dinamizar a formação, a investigação e a divulgação científica e cultural para responder às necessidades regionais e às expectativas dos atores locais e dum CEI mais ativo e empenhado na qualificação das pessoas e na coesão dos territórios (…)», mas com as atividades aprovadas, na última reunião datada de 17 de janeiro deste ano, não faz jus em NADA à sua missão, é necessário mais, é necessário fazer e cumprir a missão desta e de outras instituições. Acabe-se com o gastar de dinheiro só apenas para dar protecionismo a quem desta área nada percebe. Apenas como curiosidade, eu faço parte dos 70% de bolsas de pós-doutoramento, a minha não foi aprovada!!!!

Por: Cláudia Teixeira

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