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Lideranças na Guarda e a Guarda na liderança

Crónica Política

A natureza e o exercício da liderança têm sido foco de pesquisas do homem ao longo da sua história. A busca do ideal do líder também está presente no campo da filosofia. Platão, por exemplo, argumentava em “A República” que o regente precisava ser educado com a razão. A condução de um grupo de pessoas, transformando-o numa equipa que gera resultados, é chamado de liderança. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem os objetivos da equipa e da organização. Assim, o líder diferencia-se do chefe, que é aquela pessoa encarregada por uma tarefa ou atividade de uma organização e que, para tal, comanda um grupo de pessoas, tendo autoridade de mandar e exigir obediência. Para os gestores atuais, são necessárias não só as competências do chefe, mas principalmente as qualidades do líder (pt.wikipedia.org/wiki/Liderança).

Vêm estas citações reflexivas a propósito da gratuita afirmação de quem representa a estrutura partidária responsável pela ausência da liderança política da Guarda no contexto regional e que é responsável pela gestão autárquica da Guarda nas últimas décadas.

As lideranças não devem ser reconhecidas pela necessidade de estar na primeira fila do ruído ou do foguetório ou de quem se torna suscetível das benesses do poder, mas antes pelo aturado trabalho, gerador de resultados.

É ou não verdade que a Guarda perdeu a liderança, enquanto capital de distrito, no contexto regional? É ou não óbvio que quem tem a obrigação de liderar as reivindicações para a Guarda são os presidentes de Câmara e os representantes autárquicos a quem o povo, em sucessivas eleições, conferiu mandato para o efeito? Devemos ou não questionar-nos sobre o bom exercício de tais mandatos e sobre o desempenho do Partido Socialista, único responsável pelo poder autárquico na Guarda?

Que exigências reivindicativas foram feitas junto do poder central quando retira poderes ou serviços à Guarda, seja com o atual, seja com anteriores governos?

Onde estiveram os representantes autárquicos da Guarda na defesa da linha da Beira Baixa? Que comparação podemos fazer entre as reivindicações dos representantes da Guarda e de outras cidades vizinhas no que se refere às portagens?

Onde estiveram os representantes autárquicos da Guarda na aprovação, em tempo útil do Plano de Pormenor da PLIE, para que os investidores interessados não optassem por outras paragens?

Qual a força dos representantes da Guarda no caso do encerramento da Delphi, assistindo à continuação da empresa em Castelo Branco?

Que diligências fizerem para aprovar e exigir a homologação da revisão do PDM, incentivando as construções e investimentos, evitando e prevenindo a diminuição das populações nas freguesias rurais?

De notar que nas freguesias que ficam próximo do limite mínimo dos 150 habitantes bastaria, em tempo útil, a Câmara ter feito o trabalho da casa na revisão do PDM para terem assegurado tal número de habitantes (pois houve casais que não construíram a sua casa nas aldeias, acabando por se fixar na cidade porque os terrenos que possuíam, sem qualquer justificação ambiental ou urbanística, não tinham aptidões legais para construção).

Que diligências foram feitas para alcançarem o resultado de garantir a continuidade do Hotel Turismo, nas mãos do Estado ou de privados (não tendo a exclusiva preocupação de obter o encaixe financeiro que foi obtido)?

Outros exemplos de falta de liderança da Guarda poderão ser referenciados:

“Call center” da Adecco – A multinacional Adecco pretendia criar 250 postos de trabalho diretos na Guarda com a abertura do Centro de Suporte a Clientes e Negócios. A empresa especializada na prestação de serviços de gestão de recursos humanos tencionava investir 800 mil euros naquela estrutura. No entanto, no final de maio de 2012, o “call center” estava inativo, tendo os seus 18 trabalhadores sido mandados para férias após as quais vão terminar os respetivos contratos. O número máximo de colaboradores nunca excedeu os 25 (dez vezes menos do que o previsto). Atente-se no facto da Câmara da Guarda ter gasto cerca de 450 mil euros na remodelação e recuperação daquele espaço.

Delegação RTP – Segundo notícia do “Correio da Manhã”, de 22-02-2012, perspetiva-se o encerramento da delegação da RTP na Guarda, sendo que o trabalho aqui desenvolvido será encaminhado para a delegação de Castelo Branco. Que papel liderante já vimos aos representantes legitimados pela Guarda?

Data Center da PT – Esta estrutura orçada em 50 milhões de euros e criadora de 500 postos de trabalho altamente qualificados está a ser construída na Covilhã. Relativamente às condições exigíveis para a instalação do projeto, a Guarda tinha, em todos os requisitos, melhores condições que a Covilhã, quer em acessibilidades, quer em clima, características anti-sísmicas e condições ambientais. No entanto, a Câmara da Guarda nem sequer se dignou concorrer ao projeto, acrescendo o facto de, por coincidência, o eng. Luís Todo Bom, que foi presidente da PT e é natural do distrito, poderia ter uma influência positiva caso se soubesse utilizar uma magistratura de influência.

Iberdrola – Em 2006, foi anunciado com grande pompa e circunstância que a Iberdrola iria construir 5 fábricas em Portugal, sendo que os locais escolhidos seriam Guarda e Paços de Ferreira. A Guarda seria escolhida para localizar uma unidade de produção de componentes e montagem de aerogeradores, um centro logístico e um centro de despacho de energia eólica para Portugal e as regiões espanholas vizinhas. O consórcio previa criar 300 novos postos de trabalho diretos neste “cluster”, que se prolongava em Paços de Ferreira, com duas fábricas para produzir pás e eletrónica de potência. No entanto, a empresa ficou em ultimo lugar no concurso, estando este projeto irremediavelmente perdido. Atente-se no facto do responsável da Iberdrola em Portugal, ser o ex-ministro socialista Pina Moura, natural do distrito da Guarda (Seia).

Que capacidade de liderança tiveram os responsáveis da gestão autárquica para promoverem uma verdadeira Reforma Administrativa?

A chamada reforma administrativa na Guarda é uma Não Reforma. Nada mais se fez do que dar estrito cumprimento à lei. Ora, nas reformas distinguem-se a pequenas visões dos burocratas dos verdadeiros reformistas. Toda a gente sente a necessidade de uma verdadeira reforma. Importa que os detentores do poder e das maiorias sejam capazes de liderar e propor verdadeiras reformas. Foi o que não aconteceu na Guarda. À Câmara da Guarda e a Assembleia Municipal, dominadas pelo PS, impunha-se uma proposta arrojada, propondo uma reforma administrativa para o concelho, levando em conta e protagonizando entendimentos não motivados exclusivamente pela aplicação dos rácios legais ou por critérios ligados a benefícios imediatistas, mas atendendo a um conjunto de ligações geográficas, territoriais, culturais, históricas, sociais e afetivas como fatores de entendimentos entre populações.

Neste, como noutros dossiers, a Guarda deixou de ter liderança e capacidade de afirmação no contexto regional. Importa não tentar baralhar para dar de novo, atribuindo culpas para os governos ou partidos da oposição. A quem se exige liderança no levantamento da voz em nome da Guarda é a quem foi legitimado para o efeito, ao presidente Câmara e ao partido que tem merecido, em termos autárquicos, a confiança dos eleitores. Como não têm correspondido a tal mandato, os eleitores terão todas as razões para legitimar a mudança.

Por: Manuel Rodrigues

* Presidente da concelhia da Guarda do PSD

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