Paul Auster é o autor da famosa Trilogia de Nova Iorque que foi, certamente, a obra responsável pelo reconhecimento do escritor junto do grande público.
Em Leviathan, o protagonista, Benjamin Sachs, é-nos dado a conhecer sob o ponto de vista do seu amigo Peter Aeron ao longo das páginas deste livro. Sachs é um escritor que, por razões várias que só no final da obra podemos julgar de forma parcial, se converte num bombista relativamente popular junto da sociedade americana.
Creio que o livro é, essencialmente, uma apreciação dos julgamentos que fazemos dos outros e da impossibilidade de uma alteridade objectiva que nos permita conhecer as verdadeiras motivações dos homens. Ao lermos é legítimo questionarmo-nos acerca da irracionalidade das motivações humanas.
Apesar de estarmos perante um romance pós-moderno, reconhecemos de forma muito clara o enredo: Peter Aeron, sob forma de tributo póstumo mas também incitado por uma necessidade-desejo-compulsão de conhecer o seu amigo Sachs, decide relatar quase quinze anos de relação com o escritor. Simultaneamente, numa corrida contra os investigadores do FBI, procura deslindar, tanto quanto pode, a decisão de Sachs de mudar de vida e de se assumir como um bombista marginal, facto que, aliás, acaba por ser o cumprimento do seu destino e também o fim da sua vida. Entretanto, apercebemo-nos das relações pessoais e das amizades comuns que desenham um pouco a sociedade norte-americana à deriva (como outras, na verdade). As personagens questionam inconscientemente a sua identidade, o seu papel no mundo e as suas opções, fruto quer das circunstâncias externas, quer das tomadas de posição pessoais.
Sinto que no final, a ideia de predestinação ou de inevitabilidade resultam relativamente apagadas e outros conceitos se agigantam: o de livre arbítrio e o de escolha pessoal, embora sempre constrangidos pelo momento, pelo físico e pela falibilidade humana.
Peter Aeron, o narrador responsável pela história “fala-nos” de maneira muito natural sob uma camuflagem quase que policial o que torna a leitura muito acessível. Após a leitura, segue-se necessariamente o tempo de reflexão que, claro está, deixo ao critério de cada leitor.
Por agora, lanço um desafio com as palavras de Paul Auster:
“Por muito delirantes que sejam, as nossas invenções nunca conseguem igualar a imprevisibilidade daquilo que o mundo real constantemente despeja sobre nós.”
Por: Carla Ravasco