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Levantar a voz

Editorial

1. A reorganização do mapa judiciário vai ter como primeiras vítimas na região os tribunais de Fornos de Algodres e Mêda cujo encerramento está decidido, e na desclassificação dos de Penamacor e do Sabugal.

Como aqui escrevi na passada edição, «é tempo de defender Portugal» dos verdugos do encerramento, contra o desmantelamento de serviços, contra a morte silenciosa do interior do país. E foi assim que, na Mêda, segunda-feira, a população saiu à rua e protestou contra mais esta decisão do poder central de negar o direito aos resilientes que ainda vivem naquele concelho, terem Justiça de proximidade. Para eles, tratar de um assunto de Justiça vai passar a ser muito mais complicado – vão passar a tratar dos casos forenses em Foz Côa, e para isso terão de percorrer mais umas dezenas de quilómetros para se queixarem, para se defenderem ou pedir proteção, terão de arrastar testemunhas por quilómetros e verem chegar “a outra parte” também de longe… com enormes custos para todos.

A manifestação da Mêda foi apenas mais um ato de insubordinação às “superiores” decisões de Lisboa sobre a província. E provavelmente não irão mudar o destino já traçado dos tribunais. Mas são mais um grito, um levantamento, uma cruzada que o interior terá de fazer contra o ostracismo e a aniquilação. É preciso juntar mais vozes, à voz dos que já defendem o interior, é preciso que os políticos de todas as cores tenham a noção de que não podem continuar a defender os interesses e as ideias dos seus partidos, mas sim, e em primeiro lugar, devem defender o interesse das suas comunidades, das pessoas que vivem nas suas terras, nos seus concelhos e nos seus distritos.

2. Na Guarda há uma passagem de nível onde, cada vez mais, o perigo de vida é uma constante. No último ano, houve uma morte e vários acidentes de pequena monta. Na semana passada mais um, com grande aparato e um ferido ligeiro. E, entrementes, nada foi feito para resolver a situação, nem se melhorou a segurança, nem se introduziram meios de sinalização eficaz, nem se avança para uma resolução definitiva, que passaria pela construção de uma passagem superior ou viaduto. De resto, a construção de uma via que ligue diretamente a Viceg ao Bairro de Nossa Senhora de Fátima, com passagem superior sobre o caminho-de-ferro, é uma promessa reincidente em todas as eleições autárquicas nos últimos 20 anos, porém, a chamada “variante à Sequeira” nunca passou das intenções. Entretanto, o trânsito aumentou na antiga EN 16, utilizando a única ligação entre os dois lados da via-férrea, numa ponte que é uma dor de cabeça para os condutores, e a que alguns fogem arriscando usar uma passagem de nível sem guarda ou segurança.

3. Em janeiro, Portugal foi o segundo país da Europa em venda de automóveis novos. Aliás, o número de novas matrículas aumentou pelo quinto mês consecutivo em toda a Europa. Se bem que, em números absolutos, o total de viaturas é um dos mais baixos registados num mês de janeiro, desde 2003. Esta notícia pode ter várias leituras, mas encerra duas evidências: a Europa, e Portugal em particular, recuperam finalmente algum dinamismo económico; as empresas e os particulares têm alguma disponibilidade para comprar bens de consumo e, mesmo que possamos querer encontrar algum aspeto nefasto na opção «pelo carro novo», não deixa de ser sintomático de um aliviar de austeridade depois de dez anos em que a curva de vendas foi sempre descendente. Por outro lado, a indústria automóvel é de enorme relevância em toda a Europa, funcionando como um enorme motor de desenvolvimento e emprego, além do dinamismo económico indireto que propicia. E Portugal também se ressentiu, sobremaneira, com a queda de vendas de carros na Europa nos últimos anos – pelas muitas fábricas de componentes e até pelas fábricas de automóveis (a AutoEuropa é um dos maiores empregadores do país e na região veja-se o problema que seria o encerramento da PSA em Mangualde, como o foi o fecho da Delphi na Guarda).

Luis Baptista-Martins

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