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Ler jornais é saber mais

Editorial

1. Passado o período de euforia, entre as comemorações da portugalidade e a “reação vagal” do presidente da República, é tempo de voltarmos a colocar os pés na terra.

Em primeiro lugar, devemos procurar interpretar os supostos benefícios de as comemorações se terem realizado na Guarda.

O impacto efetivo e as consequências decorrentes não são mensuráveis, mas acredita-se que a auréola que deixa a visita de tantas ilustres personalidades e a divulgação dos diferentes atos seja altamente positiva na promoção do nome da cidade (quase esquecida); depois de anos de laxismo, com a cidade exangue e decadente, o bulício provocado por militares e visitantes contribuiu para um recuperar de expetativas em relação ao futuro e contribuiu para recuperar a autoestima há muito perdida; o movimento gerado contribuiu para alguns sectores económicos terem um pequeno balão de oxigénio para respirarem por entre a “espiral recessiva” e o “enorme aumento de impostos” – enquanto os clientes emigravam… Poderíamos continuar a adjetivar com alusões e indicadores das últimas semanas, facilmente reconhecidos, ainda que haja sempre algum aspeto menos conseguido ou algum ponto a criticar.

Mas, o que neste momento preocupa os guardenses vai muito para além das festas (que aqui aplaudimos): que benefícios e consequências advêm das comemorações para o futuro coletivo da comunidade? O que fica para além de 10 de junho? Quantos empregos se irão criar? Que dinâmicas se irão introduzir? Que investimentos estão a ser promovidos? Que empresas se irão instalar na cidade? Etc. “Roma e Pavia não se fizeram num dia” mas a Guarda tem necessidades prementes…

2. O despedimento de 158 pessoas da Controlinveste (Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF…), depois do despedimento há cinco anos de 122, volta a colocar interrogações quanto ao futuro da imprensa. Os jornais são baluarte da liberdade e da democracia. E são um dos pilares de qualquer sociedade moderna, culta e desenvolvida. É precisamente nos países mais desenvolvidos que se lê mais jornais e é onde têm maior relevância económica, social e cultural, porque «ler jornais é saber mais». É necessário alterar a lei do mecenato e incluir o jornal entre os produtos culturais a considerar para efeitos de mecenato; as administrações públicas devem investir na relevância cultural e no contributo da imprensa para uma sociedade mais educada e mais informada adquirindo serviços à comunicação social; os jornais não podem continuar a produzir conteúdos que tantos usam, mas poucos pagam (da Google às agência de comunicação passando pelos portais de informação reproduzida e de clipping); o manancial de conteúdos que os jornais produzem tem de ser devidamente valorizado como contributo para a própria democracia e isso tem de ser mensurado pelos estados – mas claro, os poderes, os pequenos ditadores deste mundo, odeiam os jornalistas e os jornais, por isso preferem uma imprensa agonizante.

Luis Baptista-Martins

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