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Legislando na Silly Season

Consta que os deputados não vão ter férias. O programa da Troika e o do governo, conjugados, vão implicar muita nova legislação e para isso é necessário um parlamento a postos. Se pensarmos que nesta legislatura vai ser possível (e necessário) alterar a Constituição, então todo o tempo começa a parecer pouco. Entretanto, vamos assistindo aos acontecimentos na Grécia como se estes mostrassem um dos nossos possíveis futuros, como nas histórias do homem a quem profetizaram a morte para determinado dia e que, freneticamente, procura alterar o rumo dos acontecimentos. Nós, ao menos, temos a vantagem de ir apreciando, para nossa instrução, os erros dos outros. Basta evitá-los?

É verdade que os gregos se têm especializado nos erros mais graves (um hospital com quatro arbustos e quarenta e cinco jardineiros, cinquenta motoristas por cada carro oficial, reformas aos cinquenta anos para cabeleireiras), até ao limite do anedótico, mas não sejamos modestos que temos os nossos próprios pecadilhos.

Entretanto, e ainda na Grécia, há manifestações diárias e desobediência civil generalizada. Na praça Sintagma, diz a Economist, as pessoas parecem acreditar que se berrarem suficientemente alto, poderão continuar a viver com dinheiro emprestado. Isto, dirão, serão sarcasmos anglo-saxónicos, e têm razão. Mas é precisamente disso que se trata: procurar de continuar a viver com dinheiro emprestado.

É o mesmo por cá. Á falta de ideias para criar mais riqueza, de modo a manter o máximo daquilo que temos, os partidos da esquerda continuam a reclamar e exigir como se já tivessem quem empreste o dinheiro. Carvalho da Silva acha que este é o momento ideal para subir o salário mínimo para quinhentos euros e consegue dizê-lo sem se desmanchar a rir. Entretanto, todos os dias fecham empresas para quem o actual salário mínimo já é alto demais. Algumas perguntas a todos eles: contentavam-se com os direitos dos trabalhadores alemães? O que acham necessário para os conseguir? Acham que pelo caminho que levávamos iríamos chegar lá um dia? (Já agora, quando falo da Alemanha não me refiro à antiga RDA).

Por isso, perdidas as ilusões da vida fácil, do crédito disponível para todos, resta-nos esperar que do parlamento venha bom senso e uma solução para a crise e que esta ainda dependa de nós.

E é tudo por agora. Volto em Setembro, como de costume.

Por: António Ferreira

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