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Legado modernista de Abel Manta em Gouveia

Cerca de 21 obras do pintor, natural da “cidade-jardim”, estão expostas no museu, mas os responsáveis esperam aumentar o espólio com doações

Abel Manta, pintor modernista gouveense, dá o nome ao museu da “cidade-jardim”, enquanto homenagem a um dos mais ilustres “filhos da terra”. O espaço dispõe de diversas obras, como o “Último Auto-retrato” que, segundo Sílvia Cavaco, guia do museu, resume simultaneamente «o que foram o artista e a sua obra».

Criado em 1950, com o nome de Museu Municipal de Gouveia, só 35 anos depois viu consagrada actual designação de Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, aquando a inauguração da exposição de obras do pintor. São cerca de duas dezena de telas de Abel Manta, doadas pelo seu filho à instituição, que ilustram as diversas influências que o artista sofreu ao longo de toda a sua vida. Das suas viagens, que demoraram anos, por Paris, Assis e Florença, assim como dos seus mestres, todos ajudaram à construção da sua formação pessoal. Rembrandt, Cézanne, Picasso, Matisse, Manet, Velázquez, Goya e Degas são as escolas explícitas nos seus quadros. Ainda que difícil de catalogar devido à sua «polivalência», o pintor de síntese mostrou «grandes capacidades e vontade em continuar no género do retrato», continua a guia. Abel Manta ganhou o merecido lugar na primeira geração de modernistas portugueses ao conjugar sobre a tela as «lições de Manet e Cezánne ao aprendizado naturalista». Quadros como “Homem do Cachecol”, “La Servante”, “As Maças”, “Homem com Capacete”, ou os dois auto-retratos do pintor, o primeiro datado de 1912, podem ser vistos no museu, comprovando as diferentes áreas de formação do artista. Abel Manta teve ainda algumas experiências pelo género “nu”, mas dessas tentativas e desenhos «desinteressados pelo preceito deste tipo de arte» apenas está patente uma obra intitulada friamente “Nu”.

O museu, virado para a pintura portuguesa, expõe permanentemente mais de uma centena de telas ilustrativas de movimento modernista. Ainda que seja um espaço de pequenas dimensões, atrai por ano milhares de visitantes amantes deste movimento, como o comprovam os dados do ano passado, que apontam para cerca de 4.310 visitas. Entre elas, destacam-se as visitas de estudo vindas de todo o país. Mas o trabalho com os alunos passa também por um projecto que pretende «despertar a sensibilidade dos mais novos para a arte e ajudá-los a compreender e apreciá-la», garante Sílvia Cavaco. Este plano baseia-se em trabalhos elaborados pelos estudantes, principalmente na área da pintura, sendo alguns deles expostos no museu. Mas o mais interessante das actividades com as escolas, refere ainda, «é a oportunidade de ensinar algo de valioso, mas acima de tudo, aprender com as crianças, resultando numa experiência enriquecedora».

O museu está instalado no antigo solar dos Condes de Vinhó e Almeida, um edifício de traça setecentista propositadamente adquirido e reabilitado pela autarquia de Gouveia. Mas a instituição debate-se ainda com alguns problemas ao nível de iluminação e conservação das obras, visto coexistirem na mesma sala, à mesma temperatura ambiente, pinturas sobre madeira e tela. O museu, com cerca de cinco salas, mostra igualmente obras de autores portugueses da modernidade, como Sá Nogueira, Menez, Joaquim Rodrigo ou Manuel Baptista, nomeadamente. Também a esposa de Abel Manta, Clementina Carneiro de Moura, e o filho, João Abel, contribuíram para o espólio com duas e três pinturas originais, respectivamente. A estrutura museológica conta ainda com uma sala para mostras temporárias, que no mês de Setembro vai alojar uma exposição sobre o escritor Vergílio Ferreira.

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