Um calvário em marfim e madeira, da Igreja Paroquial de Vila Cova à Coelheira (Seia), será o único representante da Diocese da Guarda na maior exposição de arte sacra da Península Ibérica. A catedral da vizinha Ciudad Rodrigo é o cenário escolhido para a XIIIª edição de “Las Edades del Hombre”, cuja abertura está marcada para 9 de Junho. Até Dezembro, os visitantes poderão apreciar cerca de 200 peças, a mais antiga das quais é datada do século X.
Esta mostra, apresentada segunda-feira na Guarda, é um grande acontecimento cultural em Espanha e, pela primeira vez, conta este ano com a participação de algumas dioceses portuguesas. A representação lusa resume-se a oito peças oriundas de igrejas e museus de Alpiarça, Évora, Faro, Seia, Moura, Redondo e Santarém. Para além do calvário em marfim e madeira, estarão em destaque “A Anunciação”, uma pintura sobre tábua do século XVI vinda do Museu de Alpiarça, ou “Cristo em Magestade”, escultura em pedra do século XIV cedida pelo Museu Municipal de Santarém. Inicialmente estava previsto que a Guarda fosse representada por três peças, mas nem o “Divino Salvador”, imagem de Cristo Ressuscitado, património da Igreja Paroquial de Aldeia do Bispo (Guarda), ou o “Retábulo da Anunciação”, em pedra de ançã, da escola de João de Ruão, propriedade do Museu da Guarda, vão sair da Diocese. Neste caso devido aos cuidados que inspira na desmontagem, transporte e montagem. “Las Edades del Hombre” é promovida pela fundação homónima constituída pelas 11 dioceses de Castela e Leão,
Esta exposição bi-anual acontece desde 1988 nas sedes episcopais daquela província, mas já teve duas incursões no estrangeiro, na cidade belga de Anvers e Nova Iorque. No total, os promotores estimam que perto de nove milhões de pessoas já viram “Las Edades del Hombre”. A edição de Ciudad Rodrigo intitula-se “Kyrios”, termo grego que significa “Senhor”, e é composta por cinco capítulos onde se poderão apreciar retábulos, pinturas, esculturas, paramentos ou sacrários que remetem para o Antigo Testamento, Nascimento de Cristo, as suas obras, milagres e parábolas, mas também para o mistério pascal. Um vasto património religioso e histórico-cultural que o autarca guardense, Joaquim Valente, considera um vector «essencial» para o desenvolvimento de territórios de fronteira como o distrito da Guarda e a província de Castela e Leão. Uma ideia subscrita por D. Manuel Felício: «Esta exposição pode e deve ser uma motivação para continuarmos, conjuntamente, à procura de um modelo de desenvolvimento assente no património religioso, histórico, paisagístico e cultural», acrescentou o Bispo da Guarda.
Já D. Atilano Rodrigues Martín, Bispo de Ciudad Rodrigo, destacou a riqueza de Castela e Leão. «Só se repetem 20 peças de outras mostras. O que é sintomático do esplendor do nosso património religioso», referiu. A apresentação de “Las Edades del Hombre” na Guarda foi uma autêntica operação de charme do Patronato de Turismo de Salamanca. É que “nuestros hermanos” apostam forte nos portugueses como potenciais visitantes. «Um dos pontos fortes da promoção desta exposição são as principais cidades do país vizinho», reconheceu Isabel Jiménez García, presidente daquele organismo.
Luis Martins
