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Largo da Estação cada vez mais «vazio»

Transferência da Farmácia Moderna para a Avenida de S. Miguel foi mais um “duro golpe” para a zona da estação da Guarda

Fausto Matias é comerciante no Largo da Estação há 24 anos, altura em que abriu a sua relojoaria. Do passado, recorda o rebuliço e o movimento constante, mas do presente guarda sobretudo o «vazio» que agora se sente nesta parte da cidade. «Isto aqui passou a ser um lugar que não tem ninguém, até costumamos dizer que isto agora é uma aldeia», lamenta.

Pelas ruas, são muitos os que falam da “morte” deste largo que tem cada vez menos gente. A transferência da Farmácia Moderna para a avenida de S. Miguel, na última semana, parece ter sido mais um “duro golpe”, depois do fecho da Delphi – a fábrica de componentes que encerrou em Dezembro do ano passado, deixando centenas de pessoas no desemprego. «A farmácia ainda trazia muita gente e a fábrica ainda mais, mas agora o largo está sem movimento nenhum», garante Fausto Matias. O comerciante não arrisca atribuir culpas, mas admite que as pessoas da Estação se «sentem desprezadas» e que esta zona da cidade está «a ficar cada vez mais pobre». «Não sei de quem é a culpa, mas oiço dizer que na Covilhã e noutras localidades, estas zonas não estão assim», desabafa.

No café ao lado, José Fonseca fala num largo «sem vida». «Aqui já não se passa nada, está tudo cada vez mais vazio e a farmácia era uma ajuda, apesar de já haver pouco movimento», admite. Ao longo da rua, vários foram os estabelecimentos que fecharam nos últimos tempos, entre eles uma sapataria. Mas Fausto Matias desconfia que não se ficará por aqui: «Oxalá me vá enganar, mas outras casas irão fechar porque estamos a viver uma situação mais complicada financeiramente», refere. Os moradores também não vislumbram um futuro animador para o comércio da zona. Aníbal Alves mora junto à Delphi e diz que antes o largo «tinha um movimento doido». A sua previsão é dura: «Se isto continua assim, as casas vão-se todas abaixo. Já fechou uma loja de calçado, a farmácia foi para outro sítio e os cafés também podem vir a fechar porque não há dinheiro», constata.

Na sua opinião, a autarquia deveria intervir e «fazer mais pela população da Guarda, não só na Estação, mas em geral». António Saraiva, outro morador, considera que a mudança da farmácia acaba por ser prejudicial para alguns idosos, que estão agora obrigados a fazer um caminho mais longo. «Custa mais um bocado, aqui estava mais central e o largo perde em todos os aspetos», sublinha. Já Joaquim Monteiro entende que a transferência da farmácia não veio alterar muito o movimento. Para este morador foi o fecho da Delphi que ditou o progressivo abandono do lugar. «Antigamente era muito diferente porque trabalhavam aqui milhares de pessoas», recorda. No Quiosque da Estação, Salvador Furtado também fala no facto do largo se ter tornado “uma aldeia”. Para este comerciante, mais do que a farmácia foi o encerramento da fábrica que pôs fim a uma época em que o número de clientes era bem diferente. Por agora, o que continua a dar vida ao espaço e salvar o seu negócio é o vaivém de pessoas nas horas de partida e chegada dos comboios.

Catarina Pinto Largo ganha vida apenas nas horas de partida e chegada de comboios

Largo da Estação cada vez mais «vazio»

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