A empresa Lacticínios da Marofa, instalada na zona industrial de Figueira de Castelo Rodrigo, encerrou as suas portas no início deste mês e não se vislumbra, no imediato, uma solução para a fábrica voltar a laborar. A esperança para a sua reabertura parece residir agora num grupo espanhol de empresários que já terá reunido com a Caixa Geral de Depósitos, um dos principais credores. Em risco estão os postos de trabalho de cerca de 20 funcionários, que terão ainda três meses de salários em atraso.
Preocupado com o futuro da empresa de lacticínios está o presidente da Câmara de Figueira. António Edmundo fala numa reunião com um engenheiro da fábrica para referir o interesse de um grupo de empresários do outro lado da fronteira. «Já se dirigiram à Caixa Geral de Depósitos, que é o principal credor, no sentido de apurarem a viabilidade da continuidade do investimento», indica. De resto, e de acordo com o que lhe foi dito pelo funcionário, o autarca realça que o problema da fábrica apenas poderá ser resolvido com a injecção de uma «verba significativa», uma vez que a situação «exige uma lufada de ar fresco em termos de participação financeira e aí a Câmara não poderá ajudar», lamenta. Assim sendo, é necessário encontrar um privado que «queira correr o risco de negociar», essencialmente com a banca, para retomar a produção de uma fábrica que laborou durante mais de 40 anos «com mercado e produto», recorda. António Edmundo mostra-se apreensivo com o facto de mais 20 pessoas do concelho poderem ficar desempregadas, para além de temer que o escoamento da produção local de leite, que «é de qualidade», esteja em causa.
Aliás, o queijo produzido pelos Lacticínios da Marofa tinha «marca, nome, sabor, preço e mercado», daí que a edilidade se tenha mostrado disponível para «pagar antecipadamente o produto, caso a fábrica o produzisse, para o colocarmos no mercado através da empresa municipal Figueira Verde, porque tínhamos clientes para esse produto em quantidades já apreciáveis», garante. Uma medida que se revelou insuficiente, isto de acordo com a gestão operativa da fábrica, porque ainda «nenhum accionista» se dirigiu à Câmara. O autarca realça ainda que é importante saber o que o Instituto de Participações do Estado, enquanto accionista, «pode fazer pela empresa em cuja administração também tem responsabilidades», recorda. Por outro lado, António Edmundo salienta que, para além da qualidade do leite e do queijo, «o saber fazer também está presente localmente», assevera. Sem esquecer que a empresa foi alvo de um «grande investimento» para a sua modernização há quatro anos atrás: «Estamos a falar de uma fábrica moderna com equipamentos de ponta e que foi construída há muito pouco tempo com fundos comunitários e o apoio do Governo. Não é uma fábrica obsoleta», sublinha.
No entanto, é desde essa altura que «os problemas se têm feito sentir, agudizado ou, pelo menos, revelado, porque até aí a fábrica vinha laborando sem grandes sobressaltos», adianta. Em termos locais, considera que os produtores de leite do concelho «ainda não estão em risco», até porque já «muito poucos» forneciam os Lacticínios da Marofa. A grande maioria vende para Espanha, Seia, Celorico da Beira e Gouveia. O pior, na sua opinião, será «daqui a dois ou três anos», quando estes produtores ficarem «na “mão” de comerciantes que, ao verem que não há concorrência, podem começar a baixar os preços», alerta. Entretanto, admite que o lugar deixado vago pela empresa no mercado dos queijos vai ser ocupado, «nem que seja por fabriquetas locais mais pequenas». «Tenho a certeza de que Figueira vai continuar a produzir queijo, ainda que de modo mais artesanal, e empregando menos pessoas», acredita. Fundada em 1964, os Lacticínios da Marofa produzia queijos de ovelha, cabra e vaca, nas qualidades de prato, flamengo e barra. Apesar das tentativas, “O Interior” não conseguiu contactar nenhum elemento da sua administração.
Ricardo Cordeiro