Arquivo

Juventudes partidárias com dificuldades em “seduzir” jovens

“Jotas” já foram mais populares no distrito da Guarda, onde os jovens dirigentes estão sempre à procura de mais militantes

Cinco jovens dirigentes, cinco “jotas” distintas e cinco ideologias. As diferenças podem à partida parecer muitas, mas, na hora de falar em projectos, os líderes distritais das juventudes partidárias queixam-se do mesmo: é difícil captar o interesse dos jovens para a política. E muitos dos que estão nestas organizações estão a chegar aos 30 anos. O desemprego e a desertificação são preocupações comuns aos jovens dirigentes da Guarda.

A Juventude Social Democrata (JSD) é a única que consegue estar em todo o distrito. Tem secções nos 14 concelhos. «Teremos uns mil militantes», estima Hugo Miranda, de 27 anos, que vai no segundo mandato à frente da distrital. No primeiro dedicou-se inteiramente às concelhias: «Na altura, não havia praticamente secções eleitas e em Trancoso, Aguiar da Beira e Almeida nem sequer havia o número mínimo de militantes para poderem ser criadas», recorda. O jovem, filho do presidente da Câmara de Fornos de Algodres, ganhou esta batalha, numa tarefa que diz ter sido «muito difícil». Porém, tem outra pela frente: «Os limites de idade [30 anos] são uma questão muito complicada. Com a saída dos mais velhos, às vezes cria-se um vazio», explica o presidente da distrital. «Depois há também quem vá estudar para fora – por vezes, para não voltar – e acabe por militar noutros pontos do país», acrescenta Hugo Miranda, que é licenciado em Direito, mas trabalha na área da gestão de empresas em Penalva do Castelo (Viseu).

«Somos um distrito do interior e, como tal, vivemos os problemas da interioridade», refere, ao lamentar o desemprego e a desertificação, bem como a consequente «cada vez menor massa crítica». «A nossa grande batalha relaciona-se com a questão da interioridade», afirma. Para que haja maior envolvimento dos jovens, defende que, «na próxima revisão constitucional, deveria “mexer-se” nos partidos para que a generalidade da população possa também participar na eleição de um putativo primeiro-ministro». Na sua opinião, «a política do cartão e da bandeira na mão já teve o seu tempo», defendendo o sistema de eleições primárias, à semelhança do que acontece nos EUA.

JS quer núcleos em Aguiar, Fornos e Pinhel

Pedro Rebelo, de 28 anos, foi eleito presidente da Federação da Juventude Socialista (JS) da Guarda no mês passado, toma posse no sábado e ideias para aumentar o número de militantes parecem não lhe faltar. Para começar, este jovem da Mêda, assistente social, quer criar núcleos em Aguiar da Beira, Pinhel e Fornos de Algodres, os que faltam. «A JS já chegou a ter 1.300 militantes no distrito e actualmente terá entre 900 e mil», contabiliza o dirigente, que também está na mesa da concelhia do PS da Mêda e é irmão de Cláudio Rebelo, adjunto do Governador Civil. Um dos seus projectos está na criação de um gabinete vocacionado para «a realização de estudos demográficos das concelhias», para perceber até que ponto estão envelhecidas e, a partir daí, traçar «um plano sustentado», adianta. Paralelamente, pretende apostar na formação dos militantes – em sessões sobre linhas ideológicas do socialismo democrático, na área autárquica e também estatuária – , como forma de os auxiliar a melhor compreenderem o meio político e a serem mais participativos.

Para o socialista, «há de facto um desinteresse por parte dos jovens na participação política», pelo que defende que a JS deve ir ao seu encontro, em lugares que frequentam, nomeadamente nas associações juvenis. Pedro Rebelo lamenta o desemprego na região e, na área da Educação, entende que o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) deveria ter mais mestrados e pós-graduações para contribuir para a fixação dos jovens. «Para combatermos os problemas da interioridade temos de ser inovadores e criativos e não apenas lamentarmo-nos», considera. Defende, por isso, entre outros aspectos, que os municípios deveriam «criar parcerias» nas mais diferentes áreas e em nome do desenvolvimento, independentemente das cores políticas.

JP «estagnou» entre 1998 e 2006

Na Juventude Popular (JP), Joana Abreu, de Aguiar da Beira, assume que não tem tarefa fácil para captar militantes: «Não só os jovens estão cada vez mais afastados, fruto de várias falhas na política, como a população em geral», analisa. A jovem centrista, de 21 anos, é a mais nova dos cinco dirigentes e é coordenadora distrital há três anos, por nomeação. A JP não tem o número de concelhias suficiente para que os militantes possam eleger uma distrital. Para isso precisaria de estar em metade do território, mas só tem três – Aguiar da Beira, Fornos de Algodres e Guarda. No total, existem uns 250 militantes. «A JP já foi uma das juventudes partidárias com mais militantes no distrito», recorda a estudante de Farmácia no Instituto Politécnico do Porto, para depois lamentar que esta organização tenha estado «praticamente estagnada» entre 1998 e 2006. «O grande desafio está em reunir pessoas para criar estruturas nos concelhos», considera Joana Abreu.

No seu entender, um dos problemas está na «pressão» que o poder exerce sobre as pessoas: «No distrito da Guarda, onde toda a gente se conhece, ainda há quem não expresse as suas convicções partidárias com receio de perder o emprego», exemplifica. «E como o emprego escasseia, não arriscam», acrescenta. «A questão é que não há desenvolvimento económico, por falta de pessoas, e não há oportunidades no distrito, onde as Câmaras ainda são as principais empregadoras», lamenta. Joana Abreu espera poder fixar-se no distrito quando terminar a licenciatura, mas admite que, antes de mais, está o seu futuro emprego, pelo que poderá «ter de optar por sair também da região».

A JCP a partir de Belmonte e o caso do BE

Já na Juventude Comunista Portuguesa (JCP), a opção foi destacar alguém que ficasse responsável pelos dois distritos da Beira Interior. «Apesar de ter a meu cargo a Guarda e Castelo Branco, por motivos de organização, o trabalho é separado», explica Carlos Veloso, de 24 anos, residente em Belmonte. Operário têxtil de profissão, o jovem, natural de Guimarães, não adianta o número de militantes que existem na Guarda por estar a «actualizar os dados». Desempenha as funções há cerca de meio ano, mas é militante da JCP há 10. A sua estratégia passa por envolver os jovens e fazer com que a JCP esteja mais próxima das suas preocupações. E, para isso, «há que ir ao terreno», defende, referindo uma recente visita ao IPG, à Delphi e ao contact center da EDP em Seia, juntamente com a parlamentar Rita Rato.

«Problemas que vivemos como o desemprego, os baixos salários ou o trabalho precário são o resultado das políticas de direita seguidas pelos Governos do PS e PSD e também CDS-PP, que têm bloqueado a vida na Guarda», afirma. Apesar de tudo, Carlos Veloso é, entre os cinco jovens dirigentes, dos mais optimistas: «Acho que os jovens continuam empenhados em tentar mudar as coisas e estão atentos», afirma. Quanto ao Bloco de Esquerda (BE), não tem juventude partidária e é o partido mais próximo dos jovens: os dados nacionais indicam que um terço dos militantes têm menos de 30 anos. No distrito, só tem estrutura na Guarda e existe um grupo de trabalho que se dedica a matérias relacionadas com a juventude. O seu responsável é Nuno Leocádio, jovem de Viseu que frequenta o último ano de Animação Sociocultural no IPG e que é também deputado na Assembleia Municipal da Guarda.

Os planos que faz são a pensar em todo o distrito. Se não há mais jovens na política, é porque «ela está cheia de burocracia e leis», mas também porque está «descredibilizada» devido ao «carreirismo e clientelismo» ou a «tantos escândalos que passam na televisão», considera. «Os jovens estão desinteressados, mas não por culpa deles», defende o bloquista. Daí que as acções do BE pensadas para os jovens sejam «diversificadas», passando por concertos, teatro ou debates. A «precariedade de empregos como os dos “call centers”» e «o valor elevado das propinas no IPG» são alguns dos aspectos focados. Um dos principais anseios de Nuno Leocádio é conseguir trazer o Acampamento Nacional do BE para o distrito.

Hugo Miranda, JSD Pedro Rebelo, JS Joana Abreu, JP Carlos Veloso, JCP Nuno Leocádio, BE

Comentários dos nossos leitores
Jovem nelson.ricardo@hotmail.com
Comentário:
Claro que não estão interessados. O que a juventude quer é borga. Se isto voltar às condições de vida do século XIX e os nossos netos viverem num regime de servidão, que se lixe. Desde que existam discotecas e bares.
 

Juventudes partidárias com dificuldades em
        “seduzir” jovens
Juventudes partidárias com dificuldades em
        “seduzir” jovens
Juventudes partidárias com dificuldades em
        “seduzir” jovens
Juventudes partidárias com dificuldades em
        “seduzir” jovens
Juventudes partidárias com dificuldades em
        “seduzir” jovens

Sobre o autor

Leave a Reply