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José Sócrates continua a ser idolatrado na Covilhã

Antigo primeiro-ministro recebeu a medalha de ouro de mérito municipal e a chave da cidade na última segunda-feira

«As contas não estão saldadas entre mim e a Covilhã, estão muito desequilibradas mas em meu desfavor», disse José Sócrates na última segunda-feira após receber a medalha de ouro de mérito municipal e a chave da cidade em que viveu até aos 16 anos e onde regressou mais tarde para trabalhar. O antigo primeiro-ministro foi bastante aplaudido na sessão solene comemorativa do 144.º aniversário da elevação da Covilhã a cidade, numa cerimónia em que foram homenageadas mais 10 personalidades e duas instituições.

No seu discurso, o presidente do município realçou que a Covilhã «sempre soube ser grata», daí a decisão de distinguir «um conjunto de personalidades e instituições» que «pela sua atividade, trabalho, dedicação e simbolismo fazem parte da história» do concelho e «contribuíram de uma forma ativa e interventiva para a sua construção e afirmação no panorama regional, nacional e internacional». Referindo-se em concreto ao antigo primeiro-ministro, Vítor Pereira considerou que José Sócrates «dispensa apresentações sobretudo para os covilhanenses que o conhecem desde menino» numa cidade em que «iniciou a sua carreira profissional e a sua brilhante carreira política». O autarca considerou que o homenageado é «na história presente o covilhanense que mais se destacou e mais prestígio granjeou à Covilhã no panorama nacional e internacional», sendo uma «personalidade ímpar de enormes qualidades políticas e humanas» que «desde sempre se bateu em todos os cargos que ocupou pela defesa e pelo desenvolvimento da nossa terra». O edil sustentou ainda que a Covilhã «não seria o que é hoje sem as conquistas e as realizações que José Sócrates conseguiu ou ajudou a conseguir», enumerando algumas obras em que o antigo governante se empenhou para que viessem para a cidade e região: «Ele contribuiu à sua maneira com as acessibilidade, com a Faculdade de Ciências da Saúde, a ferrovia, o gás natural e tantas e tantas medidas como o programa Polis atribuído à Covilhã quando ele era ministro do Ambiente. Nuns casos, teve decisão direta, noutros indireta, noutros fez lobby. Isso para nós é motivo de regozijo porque ele ajudou a Covilhã», frisou o edil. Neste sentido, o autarca garantiu ser «profundamente injusto» pensar que a homenagem seja uma tentativa de “limpar” a imagem do antigo primeiro-ministro.

José Sócrates confessou ter recebido a distinção de que foi alvo com «muita emoção», pois «nada se compara a uma distinção que testemunha a estima que um político recebe dos seus próprios conterrâneos» numa homenagem que considerou «muito especial» mas, simultaneamente, «muito imerecida» por entender que «se alguém deve alguma coisa a alguém sou eu à Covilhã e conto ajustar essas contas o mais rapidamente possível, planeio escrever sobre isso». Sem concretizar onde iria fazer o «escrito», «lá arranjarei uma forma de dar nota pública disso mas não estamos a falar de nenhum livro», o ex-governante enumerou depois algumas das razões que o levam a estar grato à cidade onde cresceu. Em primeiro lugar, salientou que a Covilhã «foi a cidade onde o meu pai foi feliz e onde se realizou profissionalmente» e de «quão boa esta cidade foi para toda a minha família e, em particular, para o meu pai». Em segundo, foi na Covilhã que aprendeu a «valorizar o ideal da igualdade. Vivi até aos 16 anos na Covilhã e sei o que era a segregação social e um certo racismo de classe. A valorização da igualdade fez de mim aquilo que sou, um socialista que sempre teve consciência que o essencial da política ou das escolhas políticas se joga sempre à volta da consideração pela liberdade e igualdade». Por último, foi na Covilhã que aprendeu «a considerar e a valorizar aquilo que muitos consideravam menor, o bairrismo, e aprendi a distingui-lo de uma certa visão que alguns tinham, tendo sempre uma visão snob perante aqueles que declaravam o seu amor à terra». Perante uma salão nobre “a rebentar pelas costuras”, José Sócrates confessou que «nesta cidade eu fui feliz, aqui me realizei e vocês covilhanenses fizeram de mim um homem melhor».

Ovação para bombeiro falecido no ano passado

Nas comemorações do 144º aniversário da elevação da Covilhã a cidade foram ainda homenageadas mais 10 personalidades e duas instituições.

As Conferências São Vicente de Paulo – Conselho de Zona Da Covilhã e a Universidade da Beira Interior foram ambas distinguidas com a medalha de mérito municipal – categoria ouro. Com a medalha de mérito municipal – categoria prata foram distinguidos António Peixeiro (médico), António Sena (diretor técnico regional da Associação de Basquetebol de Castelo Branco durante 30 anos), José Cunha (proprietário da antiga Confeitaria Lisbonense) e Luís Garra (presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa). Foram ainda homenageados três autarcas que presidiram durante mais de 20 anos a três freguesias do concelho e que abandonaram os cargos no ano passado: António Paulo (Erada), Arménio Matias (Vale Formoso) e José Pinto (Boidobra). A título póstumo foram também distinguidos com a medalha de mérito municipal – categoria prata Isilda Barata, que foi durante muitos anos membro da assembleia municipal eleita pelo CDS-PP, Pedro Rodrigues, bombeiro da corporação da Covilhã que faleceu num incêndio no ano passado e que recebeu uma das maiores ovações da tarde, e a poetisa Maria Ivone Vairinho.

Ricardo Cordeiro José Sócrates prometeu escrever para saldar a dívida que diz ter para com a cidade onde cresceu

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