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«Já seria muito bom se conseguisse entrar nos dez primeiros»

Cara a Cara – Gabriel Macchi

P – Como recebeu a confirmação oficial da sua convocatória para os Jogos Paralímpicos?

R – Pela minha classificação entre os atletas portugueses do projeto paralímpico para Londres era o quarto melhor e por isso estava bastante descansado e confiante da minha participação. Só estava mesmo à espera da confirmação a nível da convocatória oficial e quando ela chegou recebi-a com muita alegria e entusiasmo.

P – Que expetativas tem para a prova da Maratona de Londres?

R – O meu grande objetivo é tentar melhorar o lugar que tive nos Jogos de Pequim, onde fui 14º, e se conseguisse entrar nos primeiros dez atletas já seria muito bom. Tudo o que vier por acréscimo será excelente. Prometo dar o meu melhor para chegar ao fim.

P – O percurso é adequado às suas caraterísticas?

R – Ainda não conheço o percurso da prova, mas em princípio será igual ao dos Jogos Olímpicos e por isso, quando essa prova se realizar, estaremos com muita atenção para ver como será o trajeto. Nessa altura, vamos gravar a prova para observar várias vezes e estudar bem o percurso.

P – Está à espera de grandes diferenças entre a prova de Pequim e a de Londres?

R – Há sempre diferenças nos próprios atletas e mesmo no clima. Em Pequim, o clima era muito agressivo e muito húmido e isso causou-me dificuldades de respiração. Agora, em termos de adversários, em Londres há mais atletas e mais jovens do que na China. Cada prova é uma prova e todas têm as suas dificuldades. Mas, como já disse, vou tentar fazer melhor. A perspetiva e o treino que estou a fazer agora com o meu treinador é para melhorar o rendimento de Pequim.

P – Vai competir em que classe?

R – As provas de deficiência visual dividem-se em três classes: a T11, para os cegos totais, a T12, para quem tem visão até 20 por cento, e a T13, para quem tem visão até 30 por cento. A minha classe é a T12, sou amblíope e tenho uma acuidade visual inferior a 20 por cento.

P – Como está a ser feita a preparação para a prova?

R – Neste momento, estamos em estágio no Centro de Alto Rendimento de Vila Real de Santo António. Estamos a fazer um trabalho intensivo com 30 quilómetros diários, o que já é uma boa carga. Vamos variando os percursos e os ritmos. Normalmente treino duas vezes por dia e de vez em quando, uma vez por semana, faço um treino mais longo.

P– Participar nos Jogos Paralímpicos é dos pontos mais altos da sua carreira?

R – Penso que sim. O objetivo de qualquer atleta é participar em competições como estas, seja nos Olímpicos ou nos Paralímpicos. É sempre um momento alto na carreira de qualquer atleta e é uma grande recompensa e reconhecimento pelo trabalho que desenvolvemos diariamente. Acho que é o máximo que se pode atingir e estar na lista é um grande motivo de orgulho para mim.

P – Nasceu na Argentina. Que ligação tem ao Fundão?

R – O meu avô nasceu na aldeia de Souto da Casa, foi para a Argentina muito novo e a minha mãe já nasceu lá. O meu avô quis voltar para o sítio onde tinha nascido e nós viemos com ele. Eu também nasci lá e estou no Fundão há 20 anos, desde janeiro de 1992.

P – Quando é que optou por representar a seleção portuguesa?

R – Nos paralímpicos comecei em 2006, mas já tinha feito provas pelo clube da Aldeia de Joanes, também do concelho do Fundão quando era júnior. Participei no “Quilómetro Jovem” e nessa altura corria com os convencionais porque tinha uma acuidade visual muito melhor do que agora. Em 2006, comecei então nos paralímpicos.

P – Os apoios para os atletas paralímpicos são os suficientes em Portugal?

R – Suficientes não são, seriam se tivessem uma equivalência com os apoios dados aos atletas olímpicos, mesmo a nível de imagem. É lógico que um atleta com deficiência tem mais dificuldades para treinar do que um atleta dito “normal” e por isso penso que deveríamos ter, pelo menos, o mesmo apoio, mas não é fácil alterar a mentalidade das pessoas. Ainda tem que mudar muita coisa para lá chegarmos. Para fazer jus às palavras inclusão, integração e igualdade, o lógico seria sermos equiparados aos olímpicos.

P – E as condições de treino no Fundão são as desejáveis?

R – Tenho que fazer um agradecimento à Câmara do Fundão porque me vão dar um pequeno apoio monetário de quatro meses para ajudar na última fase de preparação para a participação nos Jogos. Gostaria que esse apoio tivesse continuidade para as minhas próximas competições e o próximo ciclo paralímpico. De resto, só tenho o apoio que as Donas podem dar. Não é monetário, é ao nível de transportes e de equipamento desportivo.

P – Ainda ambiciona participar nos Jogos de 2016?

R – Sim, ainda estou com esperanças de ir aos próximos Jogos no Brasil. Para um atleta da maratona não é impossível, mas vamos ver se as condições o permitem. É essa a minha ambição.

Gabriel Macchi

«Já seria muito bom se conseguisse entrar
        nos dez primeiros»

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