Arquivo

IPPAR garante que arte sacra de Alvoco é «muito valiosa»

Delegado regional avisa que obras estão em risco se não se criarem rapidamente boas condições de musealização

Afinal, são quatro as peças do Museu de Arte Sacra de Alvoco da Serra, no concelho de Seia, que podem vir a integrar o Património Artístico Nacional. A correcção foi feita pelo próprio director regional do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), que acrescentou o magistral sacrário (século XVI), de 1,70 metros, esculpido por João de Ruão. José Afonso não duvida que o “ex-libris” do único museu do género na Diocese da Guarda é de «interesse público».

No entanto, as obras seleccionadas são «interessantíssimas e muito valiosas, pelo que merecem ser classificadas», defende. Para além do sacrário, foram ainda escolhidas as esculturas de Nossa Senhora do Rosário (séc. XV) – atribuída à oficina de mestre João Afonso – e do Espírito Santo (século XVI), também elas em pedra de Ançã, bem como o retábulo da capela de S. Pedro (século XV). Todas são peças muito raras do período renascentista. A proposta de classificação está a ser fundamentada pela delegação de Castelo Branco do IPPAR, cujos responsáveis visitaram recentemente o museu de Alvoco. Mas o caminho burocrático promete ser longo e moroso, o que leva José Afonso a apelar à Câmara de Seia para que avance já com a declaração de interesse municipal. «É um processo mais rápido que o nosso, pois há uma certa urgência em preservar estas obras e criar boas condições de musealização», alerta, reiterando que, na sua opinião, estamos perante «peças valiosas». O responsável desafia também o Parque Natural da Serra da Estrela a ser parceiro nesta tarefa de conseguir «um local adequado» para a sua salvaguarda, uma vez que a localidade está na área protegida.

É que «um dos maiores venenos» da arquitectura tradicional está na aplicação de rebocos e juntas em cimento. «Com a humidade, essa mistura forma um ácido que corrói a pedra, pelo que estas peças estão em risco se não se fizer nada», avisa José Afonso, sublinhando que o IPPAR fará «tudo ao seu alcance» para as classificar. «Mas isso leva o seu tempo», lamenta. Mais um contratempo que Fernando Moura, impulsionador do museu, lamenta, até porque as obras de recuperação do templo dedicado a S. Pedro, actual capela mortuária, têm tardado em avançar. «Este reconhecimento do IPPAR é mais um incentivo para prosseguirmos com os trabalhos necessários o mais rapidamente possível», espera, considerando estar-se perante uma «alta classificação para o museu» porque é um «reconhecimento do Estado do valor que temos». Nesse sentido, acredita mesmo que vai abrir-se «uma nova época» para Alvoco. Desde finais de 2004 que a aldeia serrana tem expostas algumas obras da Escola de Coimbra e de João de Ruão, entre muitas outras. Este património valioso, reunido por Fernando Moura, docente universitário aposentado, está instalado provisoriamente na capela de Sto. António.

IPPAR quer rotas histórico-culturais

A delegação de Castelo Branco do IPPAR espera implementar, até 2013, várias rotas de divulgação patrimonial na região. A começar por um roteiro dedicado à Pintura Mural e à Arquitectura Religiosa Medieval, que deverá envolver as duas dioceses, as autarquias da Beira Interior e os Governos Civis da Guarda e Castelo Branco. Neste particular, José Afonso destaca o trabalho «extraordinário» da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) do Politécnico albicastrense, mas o DVD produzido «tem que ser completado com mais obras». Prevista está também a criação de uma Rota dos Castelos, em conjunto com a Associação dos Amigos dos Castelos. As judiarias e a arquitectura judaica na região é outro projecto, a par da Arqueologia Industrial. «A região possui um património extraordinário e diversificado que pode contribuir para potenciar a atractividade da Beira Interior para o turismo cultural e histórico. No entanto, está a zero quanto a rotas devidamente articuladas», sublinha o director regional do IPPAR, que espera poder candidatar estas iniciativas «o mais depressa possível» aos fundos comunitários.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply