A edição deste ano do Gouveia Art Rock foi considerada a melhor de todas pela qualidade das bandas participantes, a enchente de público e o êxito das actividades paralelas. A autarquia local, que organizou o festival em colaboração com a associação Portugal Progressivo, fala já numa «maturidade progressiva» e considera que o evento alcançou a «maioridade», estando garantido que vai continuar no próximo ano. «O ritmo e fulgor vividos em Gouveia demonstram que o rock progressivo está vivo em Portugal e encontra adeptos em vários pontos do mundo rendidos a um cartaz de referência», destaca um comunicado do município.
E não é para menos. O primeiro dia do único festival português de música progressiva viveu uma autêntica invasão de apreciadores deste género muito particular que recusa obedecer às regras da pop. Aqui não há limites temporais nem acordes obrigatórios, os temas são em si um festival de sonoridades e de experiências musicais. Daí ser também conhecido como rock sinfónico ou art rock.
Coube aos catalães Amarok abrir no sábado o IIIº Gouveia Art Rock. Uma escolha acertada, já que o seu folk progressivo misturado, numa base sinfónica, com múltiplas influências étnicas, como a árabe, a sefardita e a céltica, depressa contagiou o esgotadíssimo Teatro-Cine de Gouveia. A plateia foi depois entregue aos norte-americanos French TV, cujas músicas fizeram lembrar o caos organizado de Frank Zappa. Mas todos estavam à espera dos Arena, banda liderada pelo famosíssimo baterista Mick Pointer (ex-Marilion), que não deixou os seus créditos por mãos alheias e pôs a plateia em pé. A agitação prosseguiu à noite com Lars Hollmer, lenda viva do folk progressivo, e a vanguarda dos Miriodor.
No domingo, destaque para a brilhante prestação dos portugueses Trape-Zape, enquanto os italianos The Watch impressionaram pelas construções sinfónicas e a teatralidade da sua actuação, bem ao estilo dos Genesis de Peter Gabriel. Finalmente, os Univers Zéro asseguraram um final apoteótico ao Gouveia Art Rock 2005. Para além da grande qualidade da sua música, os belgas apresentaram em simultâneo um espectáculo multimédia criado por Phillippe Seynaeve. Mas estes não foram os únicos motivos de interesse do festival gouveense, que está a ganhar galões e a afirmar-se como um dos melhores do planeta. Para além dos bons concertos, a organização promoveu uma exposição bibliográfica sobre este género musical, instalações de vídeo-arte, uma feira do disco progressivo e um painel de discussão sobre a evolução do rock progressivo. Sem esquecer também que a “cidade-jardim” foi o palco das estreias mundiais dos novos álbuns dos Arena, “Pepper’s Ghost”, e dos Miriodor, sem nome, bem como do lançamento oficial de “Dellirium”, o novo disco dos portugueses Tantra.
Luis Martins