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Inquérito ao incêndio de Famalicão reaberto pela segunda vez

Família do malogrado Sérgio Rocha aguarda investigação «mais alargada»

Pela segunda vez, o inquérito do incêndio que, a 9 de Julho de 2006, tirou a vida a cinco sapadores florestais chilenos e a um bombeiro português, em Famalicão da Serra, foi reaberto pelo Ministério Público. Depois de já ter visto o processo ser arquivado, a família do malogrado Sérgio Rocha recebeu com agrado a informação de novas diligências sobre o caso.

De resto, os familiares do jovem bombeiro natural da aldeia do concelho da Guarda desconhecem quem terá solicitado a reabertura do inquérito. «Nós não tivemos influência neste pedido e não estava à espera que fosse reaberto novamente, mas fiquei agradavelmente surpreendido», confessa Daniel Rocha. O irmão de Sérgio garante que «não sabemos nem fazemos ideia de quem terá sido». No entanto, anseia que «desta vez, as autoridades judiciais vão ao fundo da questão», requerendo uma «investigação mais alargada» e que «não se fiquem pelos simples testemunhos dos intervenientes directos», reclama. «É claro que se vão perguntar a quem esteve directamente ligado ao incêndio vão sempre dizer que não tiveram responsabilidade nenhuma», reforça, considerando que «têm que se ouvir outras pessoas». O despacho de reabertura do inquérito tem a data de 15 de Maio.

Contactado por O INTERIOR, Nuno Albuquerque, advogado do proprietário da quinta onde o incêndio terá deflagrado, remeteu para mais tarde qualquer posição sobre a reabertura do inquérito por ainda não ter falado com o seu cliente e por desconhecer os motivos que estiveram na base da decisão do Ministério Público (MP). Recorde-se que o inquérito ao incêndio foi arquivado pela primeira vez em Abril do ano passado, com o MP a sustentar ter havido «precipitação» dos bombeiros, sobretudo do comandante operacional, que «não estudou, com certeza, como mandam os manuais». Na altura, o magistrado responsável considerou que o incêndio teve origem «meramente acidental» e que não houve «comportamentos censuráveis» por parte de Tiago Gonçalves, então com 18 anos. O jovem andava a limpar um terreno agrícola num dia em que o termómetro subiu aos 33 graus centígrados e a humidade relativa foi de 24 por cento. Mas o procurador subscreveu as afirmações do dono da propriedade, que afirmou que o Verão é a época do ano «mais apropriada» para limpar terrenos e defendeu que «não é previsível» que faíscas de moto-roçadoras sejam causadoras de um fogo.

No entanto, assim aconteceu quando aquele utensílio embateu numa pedra e despoletou um incêndio que consumiu 544 hectares e vitimou os seis homens. Tiago Gonçalves foi detido nesse mesmo dia pela GNR e constituído arguido, por suspeita da autoria de fogo negligente, enquanto o proprietário da quinta, um engenheiro florestal no Núcleo Florestal da Beira Interior Norte, só foi ouvido como testemunha. A par do inquérito, as suas declarações terão sido determinantes para o MP, pois o magistrado acabou por destacar os seus «30 anos de experiência na área florestal», além dos esforços do engenheiro e do jovem para conseguirem controlar o incêndio. Já a segunda fase em que o inquérito foi reaberto durou 10 meses, entre Junho de 2007 e Abril deste ano. Faleceram no incêndio cinco sapadores chilenos, com idades entre os 22 e 30 anos, que faziam parte de uma equipa helitransportada da Afocelca, sediada na zona de Penamacor, e Sérgio Rocha, de 26 anos, residente em Famalicão da Serra, que integrava a Iª secção avançada dos Bombeiros de Gonçalo.

Ricardo Cordeiro

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