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Inimigos ocultos

Mitocôndrias e Quasares

Habitamos um mundo de inimigos pequenos porém poderosos, e muitos deles invisíveis a olho nu – bactérias, vírus, fungos causadores de doenças, vermes, parasitas e ácaros. Cerca de mil espécies de bactérias povoam a superfície e as fendas da nossa pele, boca, intestinos e outras partes do corpo, mas de uma maneira geral não constituem qualquer ameaça. No entanto, outras bactérias produzem toxinas e tornam-se agentes de doenças por vezes causadoras da morte. Mais pequenos e mais traiçoeiros são os vírus. Consistindo em ADN (ácido desoxirribonucleico) ou ARN (ácido ribonucleico) revestido de proteínas, um vírus não é atingido por antibióticos porque lhe faltam as partes de atuação de uma célula. De igual forma, não possuímos defesas biológicas contra as misteriosas proteínas infecciosas intituladas priões. Transmitidas a partir dos alimentos infetados, os priões devastam o cérebro, como no caso das doença de Creuzfeldt-Jakob, a variante humana da doença das vacas loucas. Infeções fúngicas comuns, como o pé-de-atleta, muitas vezes são meramente aborrecidas e irritantes, mas alguns fungos, como o responsável pela histoplasmose, que destrói a retina, podem causar lesões permanentes.

Batalhas contínuas

Embora pensemos com frequência nos micróbios como ameaças, algumas bactérias e fungos são-nos muito úteis há muito tempo na produção de queijos fermentados, de pães levedados, de cerveja, de vinho e de outros produtos. Quantidades industriais de fungos e de bactérias naturais e geneticamente manipulados produzem todos os dias medicamentos, incluindo antibióticos. Por ironia, quanto mais antibióticos produzimos e consumimos, maior é a frequência com que assistimos ao aparecimento de novas bactérias que os antibióticos não conseguem exterminar. As bactérias, por vezes, desenvolvem mutações genéticas que alteram as suas caraterísticas, o que pode originar resistência aos antibióticos. A utilização comum e indevida dos antibióticos aumenta a probabilidade de resistência ao seu efeito.

Para combater estas doenças o corpo possui três principais linhas de defesa contra os organismos nocivos. Algumas delas já trazemos connosco quando chegamos ao mundo, ao passo que outras se desenvolvem ao longo da vida. O primeiro conjunto de medidas defensivas consiste em barreiras físicas. Revestida de uma camada superior grossa de células epiteliais mortas, a superfície da pele também está povoada de bactérias inofensivas. Ambos os fatores tornam difícil que os potenciais tipos patogénicos cheguem a ganhar terreno, revestimentos menos expostos também barram a passagem fácil dos micróbios. Por exemplo, as membranas mucosas do trato reprodutor possuem populações de residentes de glóbulos brancos defensores. O ácido gástrico cria um ambiente químico intolerável à maioria dos microorganismos contidos nos alimentos. A nossa urina ácida é igualmente inóspita – e também expulsa os intrusos. O muco que humedece o revestimento das vias aéreas respiratórias contém um antibiótico natural denominado lisozima.

Um segundo conjunto de medidas defensivas é mobilizado quando um tecido do corpo é danificado, seja qual for a causa. Estratégias como uma inflamação convocam os glóbulos brancos e as proteínas do plasma sanguíneo.

A terceira e mais versátil defesa do corpo é o sistema imunitário. Baseado em órgãos do sistema linfático, esta reação ao perigo provém das células e das proteínas guerreiras, capazes de selecionar ameaças específicas e montar um vigoroso sistema defensivo. Todos estes sistema de proteção permitem ao organismos humanos sobreviverem num sistema em constante mutação como é o planeta Terra.

Por: António Costa

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