Trata-se de demonstrar a ineficiência, expondo a eficiência.
Por questões de saúde, na verdade por ausência dela, alguém que me é muito querido, e que protejo de forma incondicional, necessitou de recorrer ao Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital da Universidade de Coimbra. Acompanhei o decorrer do processo desde as consultas à cirurgia. Logo que reunidas as melhores condições para efectuar a operação, a mesma foi marcada para a semana seguinte. Não ouvi falar de listas de espera, porque neste serviço não as há. A intervenção em causa, que se note, obriga a serrar o osso externo, prolongando o corte praticamente até à linha da cintura, de forma a permitir aceder ao coração. Esta linguagem, nada técnica, é certamente demonstrativa da agressividade a que se expõe o corpo do doente, bem como da delicadeza da intervenção.
São feitas quatro operações por dia, para além das eventuais urgências. A equipa começa o seu trabalho às sete da manhã. Todas as dúvidas e esclarecimentos são prestados com a necessária simpatia e rectidão. O espaço físico é agradável, denota respeito pelos utentes e pelos profissionais que ali trabalham. Há vitrinas que guardam religiosamente as lembranças deixadas por muitos dos que ali passaram, em sinal de agradecimento. A sala de espera, permite a solidariedade entre familiares e amigos dos doentes, a partilha da tensão no momento da espera. Passadas algumas horas, aguarda-se ansiosamente que um membro da equipa nos diga que correu tudo bem, sem imprevistos. Acontece e é a regra. Alivia-se a tensão. Durante as visitas, nos dias seguintes, questionados os médicos sobre a evolução da situação, respondem que está tudo a correr dentro da normalidade, explicando os pormenores atenciosamente. Passa uma semana e, em condições normais, já se pode sair, depois de fornecida a informação detalhada de todas as advertências e cuidados a ter. Inicia-se uma recuperação de dois meses, com acompanhamento por parte da equipa médica, e consolida-se uma relação de afecto com esta equipa de profissionais. São os seus médicos, enfermeiros, auxiliares, são os doentes deles. São centenas de pessoas unidas no Círculo de Amigos do Centro de Cirurgia Cardiotorácica HUC, que contribuem para melhorar os meios necessários ao bom desempenho desta equipa de trabalho.
Foi a semana passada. Houve método, rigor, profissionalismo, eficácia e não houve espera. Houve carinho, simpatia, dedicação, sem pagar milhares de contos. Mas porque o Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do H.U.C. presta um excelente serviço, também desmistifica a inoperância do Serviço Nacional de Saúde, em particular na área da cirurgia. Demonstra que a principal causa do seu mau funcionamento, da sua mediocridade, é sobretudo a incompetência e falta de dedicação dos profissionais da saúde. Não há lugar a desculpas. É possível prestar um serviço imediato e eficiente …a equipa do Professor Manuel Antunes fá-lo diariamente.
Por: Cláudia Quelhas