O sub-director geral das florestas, António Gravato, revelou na última quarta-feira a intenção de alargar a todo o ano a proibição do lançamento de foguetes, que apenas se verificava em períodos críticos, nomeadamente no Verão. Uma medida que será também aplicada a todo o território nacional, freguesias urbanas inclusive. O anúncio foi feito em Castelo Branco, durante um debate sobre as alterações legislativas do Sistema Nacional de Protecção Civil e de Defesa da Floresta.
António Gravato frisou que, caso a proibição seja aprovada, não haverá «excepções» e que esta «se estenderá a todo o território nacional» e não apenas às regiões florestais. O responsável entende que se a legislação anterior fornecia um conjunto de «condicionantes e alternativas», desta feita a nova lei será «nua e crua», sublinhando que, por ora, «a medida terá de ser radical». Na origem desta decisão está, segundo o sub-director, a existência de diversos estudos que «indicam que imensos incêndios são provocados por foguetes». Contudo, esta proibição não está a agradar aos industriais do sector pirotécnico, que vêm agora o seu negócio em risco. Com quase 100 anos de existência, o proprietário da “Pirotecnia das Beiras”, sediada no Porto da Carne (Guarda), confessa que já lá vão os tempos em que o negócio ia de vento em poupa. Actualmente, a fábrica emprega apenas 10 trabalhadores, «um número que tem vindo sempre a diminuir, sobretudo desde há três anos», explica Carlos Alberto. É que em 2002 a legislação «apertou em matéria de segurança e instalações», pelo que o investimento em melhoramentos foi «enorme, para agora nos fazerem isto», lamenta.
Quanto aos incêndios, o empresário recusa a ideia de que possam ser provocados pelos foguetes. «É uma desculpa, porque, na verdade, existe é um conjunto de “lobbies” unidos contra o sector», contra-ataca. Por agora, a hipótese de fechar as portas não está excluída: «Caso a lei vá avante, não vejo outra alternativa», garante. De resto, Carlos Alberto lamenta o facto do sector pirotécnico «não ter sido ouvido» e garante que «não há memória de uma crise tão significativa». Tanto assim que poucas são as empresas que têm sobrevido. No Porto da Carne, local com grande tradição, apenas subsiste a “Pirotecnia das Beiras” e no distrito contam-se pelos dedos as fábricas ainda em funcionamento. Na Mêda resiste uma outra, que já só emprega dois trabalhadores. Manuel Duarte Costa, o proprietário, admite que a situação pode mesmo vir a tornar-se «insustentável». No último Verão perdeu «muitas encomendas no período das festas» e acredita que, a partir de agora, vai ser «muito pior». O empresário já nem quer ouvir falar da «desculpa» dos incêndios. «É tudo mentira», assegura, denunciando que a indústria da pirotecnia tornou-se «num bode expiatório para esconder problemas maiores». Certezas, diz ter apenas uma: «Vai ser necessário partir para medidas extremistas, como aconteceu em Barrancos. É preciso que as populações e as comissões de festas se revoltem», apela. Para já, o período de discussão pública das alterações legislativas acontece até ao início de Dezembro, devendo os diplomas ser aprovados em Conselho de Ministros até ao início do próximo mês de Janeiro.
Rosa Ramos