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Indignai-vos

“Indignai-vos”! É o título do livro do francês Stéphane Hessel, 93 anos, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O autor expõe neste livro que durante a sua vida sempre teve motivos para se indignar, e alerta de que existem hoje tantos e tão sérios motivos para indignação geral: o fosso crescente entre os pobres e ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, entre outros. É do título deste livro que vem o termo “Indignados” de Espanha, onde no passado domingo mais de 35.000 pessoas se manifestaram na rua a pedir uma “Democracia Verdadeira Já”, uma democracia que sirva os reais interesses das pessoas e não do mundo da finança, dos bancos e dos grandes grupos económicos, um dos slogans deste movimento é de que “as pessoas não são mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros”.

Outro país em ebulição, a Grécia, é o exemplo paradigmático de que as políticas de austeridade não funcionaram, agravaram mesmo a situação económica e a recessão grega. Tal é um vislumbre do que deverá acontecer a Portugal, pois as políticas recessivas impostas pela “troika” são elas próprias a gasolina que ateia o fogo da crise, asfixiam a economia em vez de permitirem que se desenvolva, é esta a lição grega. A propósito dos “Indignados” importa referir que foram inspirados pelo exemplo da Islândia, país que está a sofrer uma revolução pacífica baseada pela cidadania. O povo islandês tomou as ruas, e com as suas persistentes manifestações diárias em frente ao parlamento provocou a renúncia do primeiro-ministro e do Governo apenas com panelas e tachos! Foram detidos vários banqueiros e executivos ligados às operações financeiras de risco que puseram o país na bancarrota, e pelo caminho saíram da recessão.

É incompreensível o silêncio da comunicação social sobre o caso de sucesso islandês, em que recusaram seguir as políticas de austeridade. Os nossos vizinhos espanhóis indignados também foram inspirados pela “Primavera árabe”, onde já foram derrubadas várias ditaduras no Médio Oriente, e onde as redes sociais e Internet foram armas-chave. Nem toda a gente saberá, mas o protesto português da “Geração à Rasca”, em que, a 12 de março deste ano, mais de 400 mil pessoas saíram à rua protestar contra a precariedade e o desemprego que assolam o nosso país, também serviu de inspiração para eles, provavelmente será agora a nossa vez de nos inspirarmos por eles.

Fernando Felizes, carta recebida por email

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