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Por Ireth Hollow

Chovia intensamente, mas Harry Potter não se importava. Estivera sentado ao pé do lago durante toda a tarde, com o olhar baixo, perdido em pensamentos sombrios. Ignorara as primeiras gotas de chuva, bem como os apelos dos restantes colegas para que se abrigasse.

Há alguns anos atrás, tal situação despertaria a admiração de metade do castelo. Contudo, nos últimos tempos, era recorrente encontrá-lo sentado sob aquela árvore, sozinho ou acompanhado por um ou outro amigo, mas sempre em silêncio.

Naquela tarde em especial, insistira para que o seu melhor amigo o deixasse só. Este, ao invés de o contrariar, optou por fazer-lhe a vontade – já tinha compreendido que de nada valia argumentar. No entanto, o jovem Potter tinha a sensação contínua de estar a ser furtivamente observado. A princípio, julgou que fosse fruto da sua imaginação. Era perfeitamente compreensível que, após tantas batalhas e inimigos derrubados, começasse a ficar paranóico. Só ficou seguro da sua sanidade mental quando uma figura esguia surgiu por entre a chuva.

A sua visão estava turva, devido às gotas que lhe molharam os óculos; não obstante, reconheceu-a imediatamente: Hermione Granger, a sua melhor amiga e também a fonte do seu novo e estranho comportamento. Porque caminhava na sua direcção, se sabia que ele não queria estar perto dela? Será que não via a dor estampada no seu rosto, o pedido silencioso no seu olhar?

Sem saber muito bem o que fazer, limpou os óculos à camisola. Não teve, contudo, oportunidade de os recolocar, pois ela tinha avançado mais depressa do que supusera e, agora, estava sentada à sua frente, segurando-lhe o pulso. O toque dela não era gentil, mas desesperado, como se temesse que ele fugisse dela. E aqui estava mais uma ironia da vida: por mais que tentasse, ele não conseguia manter-se longe dela. Tentara, sim, com todas as suas forças, no entanto, não fora capaz. Algo o prendia irresistivelmente a ela, algo mais forte do que simples amizade.

E era esse mesmo sentimento que estava reflectido no olhar da rapariga e que a manteria sempre com ele, independentemente da chuva e de tudo o resto.

Maria João Pinto, nº 20 11ºC

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